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terça-feira, agosto 31, 2010

O Asco da Imprensa

É impossível percorrer uma qualquer gazeta, seja de que dia for, ou de que mês, ou de que ano, sem aí encontrar, em cada linha, os sinais da perversidade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as presunções mais surpreendentes de probidade, de bondade, de caridade, a as afirmações mais descaradas, relativas ao progresso e à civilização.

Qualquer jornal, da primeira linha à última, não passa de um tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal.

E é com este repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de todas as manhãs. Tudo, neste mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o rosto do homem.

Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de asco.

Charles Baudelaire, in Diário Íntimo

Mais de 150 depois de estas palavras terem sido escritas, o que é que mudou?

segunda-feira, agosto 30, 2010

Parabéns, filhota!

Hoje
o poema
veste-se
de flor-mulher

domingo, agosto 29, 2010

Lajedo 

A noite caiu sobre a cidade
E adormeceu a memória.
A neblina adormeceu as luzes,
E além dos muros
As pessoas seguem seu destino comum.

As cabeças se perdem na névoa.

Soam uns passos profundos no lajedo.

Gil Cleber

poeta brasileiro

sábado, agosto 28, 2010

Jogos de sombras  

Sempre que me procuro e não me encontro em mim,
pois há pedaços do meu ser que andam dispersos
nas sombras do jardim,
nos silêncios da noite,
nas músicas do mar,
e sinto os olhos, sob as pálpebras, imersos
nesta serena unção crepuscular
que lhes prolonga o trágico tresnoite
da vigília sem fim,
abro meu coração, como um jardim,
e desfolho a corola dos meus versos,
faz-me lembrar a alma que esteve em mim,
e que, um dia, perdi e vivo a procurar
nos silêncios da noite,
nas sombras do jardim,
na música do mar...


(poeta carioca)

sexta-feira, agosto 27, 2010

Adopção



























Na Floresta de Macacos em Ubud, no Bali, um macaco de cauda comprida adoptou um gatinho que tinha sido abandonado, passando a tomar conta dele como e fosse uma cria sua. A fotógrafa Anne Young, que lá se encontrava de férias, registou os vários momentos, que podem ser vistos aqui.

quinta-feira, agosto 26, 2010

LAÇOS

Cordas feitas de gritos

Sons de sinos através da Europa
Séculos enforcados
Carris que amarrais nações
Não somos mais que dois ou três homens
Livres de todas as peias
Vamos dar-nos as mãos

Violenta chuva que penteia os fumos
Cordas
Cordas tecidas
Cabos submarinos
Torres de Babel transformadas em pontes

Aranhas-Pontífices
Todos os apaixonados que um só laço enlaçou

Outros laços mais firmes
Brancas estrias de luz
Cordas e Concórdia

Escrevo apenas para vos celebrar
Ó sentido ó sentidos caros
Inimigos do recordar
Inimigos do desejar

Inimigos da saudade
Inimigos das lágrimas
Inimigos de tudo o que eu amo ainda


(Tradução de Jorge de Sena)

quarta-feira, agosto 25, 2010

Pretexto

Por que não cai a noite, de uma vez?
- Custa viver assim aos encontrões!
Já sei de cor os passos que me cercam,
o silêncio que pede pelas ruas,
e o desenho de todos os portões.

Por que não cai a noite, de uma vez?
- Irritam-me estas horas penduradas
como frutos maduros que não tombam.

(E dentro em mim, ninguém vem desfazer
o novelo das tardes enroladas.)


(Maria Alberta Meneres celebra hoje 80 anos)

terça-feira, agosto 24, 2010

Silêncio

De pedra ser.
Da pedra ter
o duro desejo de durar.
Passem as legiões
com seus ossos expostos.
Chorem os velhos
com casacos de naftalina.
A nave branca chega ao porto
e tinge de vinho o azul do mar.
O maciço de rocha,
de costas para a cidade
sete vezes destruída,
celebra o silêncio.
A pedra cala
o que nela dói.


(poeta mineiro, nascido a 24 de Agosto de 1955)

segunda-feira, agosto 23, 2010

Chuva de Pedra

O granizo salpica o chão como se as mãos das nuvens
quebrassem com estrondo um pedaço de gelo
para a salada de fruta dos pomares...

O cafezal, numa carreira alucinada,
grimpa as lombas de ocre
apedrejada matilha de cães verdes...

fremem, gotejam eriçadas suas copas
como pêlos de um animal todo molhado.

O céu é uma pedreira cor de zinco
onde estoura dinamite dos coriscos.

Rola de fraga em fraga a lasca retumbante
de um trovão.

Os riachos
correm com seus pés invisíveis e líquidos
para o abrigo das furnas.  No terreiro,
as roupas penduradas nos varais  
dançam, funambulescas, com as pedradas,
numa fila macabra de enforcados!


(poeta paulista)

domingo, agosto 22, 2010

Sandices

Vasily Boiko, que entendeu por bem mudar oficialmente o nome para BoiKo-Veliky, que significa “Boiko o Grande” é um magnata de aviário russo da área dos lacticínios, criado na chocadeira movida a vodka do sr. Boris Yeltsin.  Esta “ave”, não tão rara como isso, enviou um memorando interno aos cerca de 6.000 trabalhadores, informando-os de que quem  tivesse feito um aborto ou “vivesse em pecado seria despedido, dando a data limite de 14 de Outubro - dia santo da Igreja Ortodoxa -  para que os que vivem em união de facto se casem como “mandam as regras”.

Segundo declarações de um ex-empregado, o sr. Boiko nem sempre foi assim tão religioso e algumas das suas práticas nos negócios não são propriamente cristãs, acrescentando que, aparentemente, teve uma manifestação divina enquanto estava na prisão por alegadas fraudes.

Como as medidas anunciadas podem violar as leis do trabalho russas, aguardam-se novos desenvolvimentos,

sábado, agosto 21, 2010

Amigo

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

sexta-feira, agosto 20, 2010

quinta-feira, agosto 19, 2010

Sinto
 
Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.

Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.

Federico García Lorca, in Poemas Esparsos

(tradução de Óscar Mendes)

quarta-feira, agosto 18, 2010

FRONTEIRA

Quando morrer
burlarei a alfândega das almas...
Vou levar comigo aquele beijo
que roubei de ti
enquanto dormias.


(poeta gaúcho)

terça-feira, agosto 17, 2010

O dom da persuasão
               
Para convencer alguém

você pode usar a marreta
ou a caneta

você pode usar a espingarda
ou a semente de mostarda

você pode usar a lei seca
ou ir a Meca

você pode usar a prisão
ou não

você pode usar a esmola
ou a escola

você pode usar a igreja
ou as poucas coisas que ela não deseja

você pode usar o infinito
ou o seu mito

você pode usar o palácio
ou o período cretáceo

você pode usar Rockefeller
ou escrever seu próprio best-seller

você pode usar o petróleo
ou o moinho do amor eólio

você pode ser o cínico
ou o mímico

você pode ser um mártir
ou desculpar-se e partir

você pode cortar cabeças
ou fazer novas promessas

você pode empunhar outro exército
ou a paz do golfo pérsico

você pode ter estudo
ou ser um novo analfabeto barbudo

você pode falar em espiral
etcétera e tal

É.
Acredite.
Ralé.
Elite.

Para convencer alguém
você pode (por um momento)
lembrar que, sobre cem,
a sua opinião não chega a um por cento?


(poeta carioca)

segunda-feira, agosto 16, 2010

Pavoneando-se pelo Pontal


Imagem: Sucheta Das/AP
A Vitalidade de uma Nação

Uma nação vive, prospera, é respeitada, não pelo seu corpo diplomático, não pelo seu aparato de secretarias, não pelas recepções oficiais, não pelos banquetes cerimoniosos de camarilhas: isto nada vale, nada constrói, nada sustenta; isto faz reduzir as comendas e assoalhar o pano das fardas - mais nada. Uma nação vale pelos seus sábios, pelas suas escolas, pelos seus génios, pela sua literatura, pelos seus exploradores científicos, pelos seus artistas. Hoje, a superioridade é de quem mais pensa; antigamente era de quem mais podia: ensaiavam-se então os músculos como já se ensaiam as ideias.

Eça de Queirós, in Distrito de Évora

Mais de 150 anos depois de este texto ter sido escrito, a grande maioria dos detentores do poder económico e político ainda não perceberam uma coisa tão clara e tão simples!

domingo, agosto 15, 2010

Depressa

onde fica a saída 
de incêndio do seu corpo? 

Gerson Murilo

poeta mineiro

sábado, agosto 14, 2010

Elogio da Dialéctica

A injustiça caminha hoje com passo firme.
Os opressores instalam-se pra dez mil anos.
A força afirma: Como está, assim é que fica.
Voz nenhuma soa além da voz dos dominadores
E nas feiras diz alto a exploração: Agora é que eu começo.
Mas dos oprimidos dizem muitos agora:
O que nós queremos, nunca pode ser.

Quem ainda vive, que não diga: nunca!
O certo não é certo.
Assim com está, não fica
Quando os dominadores tiverem falado
Falarão os dominados.
Quem se atreve a dizer: nunca?
De quem depende que a opressão continue? De nós.
De quem depende que ela seja quebrada? Igualmente de nós
Quem for derrubado, que se levante!
Quem estiver perdido, lute!
A quem reconheceu a sua situação, quem poderá detê-lo?
Pois os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã
E do Nunca se faz: Hoje ainda!


(tradução de Paulo Quintela)

sexta-feira, agosto 13, 2010

Chagas de salitre

Olha-me este país a esboroar-se
em chagas de salitre
e os muros, negros, dos fortes
roídos pelo vegetar
da urina e do suor
a carne virgem mandada
cavar glórias e grandeza
do outro lado do mar.

Olha-me a história de um país perdido:
marés vazantes de gente amordaçada,
a ingênua tolerância aproveitada
em carne. Pergunta ao mar,
que é manso e afaga ainda
a mesma velha costa erosionada.

Olha-me as brutas construções quadradas:
embarcadouros, depósitos de gente.
Olha-me os rios renovados de cadáveres,
os rios turvos de espesso deslizar
dos braços e das mãos do meu país.

Olha-me as igrejas restauradas
sobre ruínas de propalada fé:
paredes brancas de um urgente brio
escondendo ferros de educar gentio.

Olha-me a noite herdada, nestes olhos
de um povo condenado a amassar-te o pão.
Olha-me amor, atenta podes ver
uma história de pedra a construir-se
sobre uma história morta a esboroar-se
em chagas de salitre.

quinta-feira, agosto 12, 2010

Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga, in Cântico do Homem

quarta-feira, agosto 11, 2010

Definições para o ato de ler

Ler é arder no fogo das palavras.  

Ler é beber do vinho, do veneno, da verdade.  

Ler é crescer para todos os lados.  

Ler é debater e debater-se. 

Ler é eleger o livro, o conto, o aforismo, jamais votar em branco.  

Ler é fender, sem ofender a ninguém.  

Ler é gemer, sentindo a dor que não dói, queimando de medo e de amor.  

Ler é haver, haja o que houver.  

Ler é incorrer, correndo para longe sem parar.  

Ler é jazer em vida.  

Ler é kaiser ser do meu pobre império.  

Ler é lazer que leva a ler melhor.  

Ler é mexer fundo no mais profundo de mim mesmo.  

Ler é nascer de novo.  

Ler é obedecer calado ao silencioso chamado.  

Ler é perder tudo e tudo ganhar nesta perda.  

Ler é querer, só não me pergunte o quê.  

Ler é rever, palíndromo ao lado de outros: reler, reter e reger.  

Ler é ser, e sequer outra coisa pode ser.  

Ler é tecer a manhã, estender a tarde, e à noite ter nas mãos um novo amanhecer.  

Ler é umedecer os meus lábios para enfim dizer.  

Ler é ver, e vender a alma a mim mesmo. 

Ler é webmaster ser da própria existência.   

Ler é xover com "x" para manter a ordem.

Ler é ynventar um verbo com "y" e ver no que vai dar.  

Ler é zíper a fechar e abrir.  

Ler, enfim, é percorrer as letras e nunca chegar ao fim. Porque o abecedário é pouco para tanta fome e sede de leitura.  

Ler é 1 dos muitos atos que nos fazem ler quem de fato somos.  

Ler é 2 livros ler ao mesmo tempo e neles se espelhar.  

Ler é 3 vezes mais do que qualquer outro prazer solitário. 

Ler é 4 paredes, entre as quais descobrimos quem é inferno ou paraíso para os outros.  

Ler é 5 dias no deserto para descobrir o errado, e o certo.  

Ler é 6 por meia dúzia, pequena quantidade incerta. 

Ler é 7 dias de trabalho, de sol a sol, de lua a lua.  

Ler é 8, ou oitenta.  

Ler é 9, fora e dentro de mim, viagem para o aquém e o além. 

Ler é 10, nota máxima, gesto musical do leitor compulsivo. 

Ler letra ou numeral é, em suma, um delito legal.


*professor e escritor

Publicado no jornal digital Correio da Cidadania

terça-feira, agosto 10, 2010

Leitura

Quando por fim as árvores
se tornam luminosas; e ardem
por dentro pressentindo;
folha a folha; as chamas
ávidas de frio:
nimbos e cúmulos coroam
a tarde, o horizonte,
com a sua auréola incandescente
de gás sobre os rebanhos.

Assim se movem
as nuvens comovidas
no anoitecer
dos grandes textos clássicos.

Perdem mais densidade;
ascendem na pálida aleluia
de que fulgor ainda?
e são agora
cumes de colinas rarefeitas
policopiando à pressa
a demora das outras
feita de peso e sombra.

Carlos de Oliveira, in Pastoral

segunda-feira, agosto 09, 2010

Ocupamos a paisagem…

Ocupamos a paisagem
que, desocupada, se ocupa
de nós.
Tempo de ocupação, este.

Somos o estrangeiro
que o silêncio de paredes
brancas e esquecidas
perturbou.

Extasiado ao menor rumor
de um estio
duro e claro
- todo lâminas.

Perplexo da memória
destes dias
sufocados em tédio
e cal.

Da palavra para a pedra
arrastando-se aquáticos
- as mais sazonadas
as menos polidas.

Crestada que foi,
na raiz do tempo, toda
a subliminar tentativa
de retorno.

domingo, agosto 08, 2010

Povoamento

No teu amor por mim há uma rua que começa
nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera

sábado, agosto 07, 2010

VERSO AVULSO

...O luar é a luz do sol que está dormindo...

Mario Quintana 
O adeus do mastim



























Despediu-se hoje, pelo menos oficialmente, o narco-assassino e ponta de lança do império na América Latina. A descendência garantiu a defesa do legado.

sexta-feira, agosto 06, 2010

Geografia

Pertenço a esta
geografia, ao lume branco
da resina, ao gume
do arado. A minha casa
é esta: um leito
de estevas e uma rosa
de caruma abrindo
no tecto do orvalho.


(poeta português nascido no Fundão a 6 de Agosto de 1930)

quinta-feira, agosto 05, 2010

DEBAIXO DA PELE

Sobre a pele
outras peles
como armaduras;
sob a pele
outras peles
como tessituras
indeléveis. 

Como camadas
no solo ermo
de cebola ardida:
uma inscrição
inconformada. 

Quem é que habita as profundezas
do ser? Com certeza é outro
na superfície mais externa
de sua conformidade. 

É-se o quê? Sujeito a que desígnios? 

Vestir-se
de todas as peles, fantasiar-se
e desvestir-se de véus
como lâminas
acesas. 

Sujeito. 

Todos os que fomos
sobrevivem em nós
ostentando perdas e ganhos.

quarta-feira, agosto 04, 2010

Os “cojones

A inefável ex-caçadora de alces do Alasca fez no passado Domingo umas declarações que deviam dar que pensar aos seus compatriotas, qualquer que seja o lado da barricada em que se encontrem. Ao elogiar a governadora do Arizona pela autoria da tristemente célebre lei da imigração, afirmou que “Jan Brewer  tem os “cojones” que o nosso presidente não tem...”.

Ora tal afirmação levanta problemas graves de segurança nacional e de credibilidade do partido republicano: de segurança nacional, porque a “leoa” do Alasca, sem ninguém se ter apercebido, conseguiu chegar tão perto do presidente Obama que pôde apalpar-lhe o abono de família para ver se ele tinha ou não “cojones”; e de credibilidade do partido republicano porque a sua ex-candidata à vice-presidência, heroína das hordas das festas do chã, conservadora até à medula e provável candidata à Presidência em 2012, sem qualquer justificação aparente dado não ser médica nem enfermeira, andou também a apalpar uma correligionária governadora de um Estado e confirmou que, tendo uns grandes “cojones”, ou é uma transexual ou uma impostora que durante toda a vida se fez passar por mulher. Tendo em conta os valores ultra-conservadores que defendem, ficaram as duas muito mal na fotografia.

terça-feira, agosto 03, 2010

Gazeio



























Hoje resolvi fazer gazeta no que respeita ao blogue, já que se trata de um dia especial. 

Daqui a nada vai um lombo de bacalhau assado no forno em azeite e alho, acompanhado de um alentejano do meio da tabela e, para rematar, um bolito de anos de chantili e morangos regado com um champanhe bruto Veuve Clicquot Ponsardin. Pobrete mas alegrete, enquanto os bancos e o fisco não me levam as já muito escassas poupanças.

domingo, agosto 01, 2010

Intransitivo

A carne anda cada vez mais fraca
e o silencio cada vez mais comprometedor
cômicos somos nós que estamos falando sério
e pobres são todos, de uma pobreza irremediável
de uma doença incurável, apesar de todos os esforços
da medicina, da psicoterapia, da parapsicologia
quando a única solução seria um sortilégio.

Há políticas bastantes para não pensarmos em nada
e condicionamento suficiente para termos a ilusão de que pensamos
de que somos livres e vivemos como queremos.
Temos vontades baratas: um novo par de sapatos
um pouquinho mais de espaço para alongar as pernas
e se possível mais tempo pra reclamar da vida.

Ah, deveríamos desobedecer secretamente a nós mesmos,
imitar um pouco mais os bichos
inventar qualquer forma mais pura
do que esta selvageria civilizada
do que este progresso cheio de violência
do que esta racionalidade que não deu certo.

Meu irmão, o absurdo somos nós.