sexta-feira, junho 11, 2010

A voz do mar

na nave língua em que me navego
só me navego eu nave sendo língua
ou me navego em língua, nave e ave.
eu sol me esplendo sendo sonhador
eu esplendor espelho especiaria
eu navegante, o anti-navegador
de Moçambiques, Goas, Calecutes,
eu que dobrei o Cabo da Esperança
desinventei o Cabo das Tormentas,
eu desde sempre agora nunca mais
cultivo a miração das minhas ilhas.
eu que inventei o vento e a Taprobana,
a ilha que só existe na ilusão,
a que não há, talvez Ceilão, sei lá,
só sei que fui e nunca mais voltei
me derramei e me mudei em mar;
só sei que me morri de tanto amar
na aventura das velas caravelas
em todas as saudades de aquém-mar.

Geraldo Carneiro, in Balada do Impostor

5 comentários:

jrd disse...

Do impostor, a verdade...

vieira calado disse...

Olá, boa noite, meu caro!

Está tudo lixado!

Até o meu computador pifou!

Estou num bar, em condições exíguas de tempo.

Desejo-lhe bom fim de semana.

Abraço forte

Sofá Amarelo disse...

Ficamos a pensar que outro Portugal poderíamos ter se fôssemos um povo diferente do que somos...

Manuel Veiga disse...

"A voz do mar
na nave língua em que me navegosó me navego eu nave sendo línguaou me navego em língua, nave e ave..."

não desejo outra Pátria.

belissimo

vou "raptar" este Poema. e guardar o Poeta.

abraços

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Excelente poema.