Ninguém
Saio à rua, ninguém fala comigo.
Entretanto, descuidado, não falo com ninguém.
Volto à casa, ninguém deixou recado.
Porém já é tarde, durmo, esqueço,
E não telefono para ninguém.
No cais, o lenço de ninguém se agita
Enquanto entre nós a distância se faz.
E eu, estranhamente, fico olhando o mar,
Sem atinar, sem acenar,
Sem adeus.
O trem chega, a distância se desfaz.
E, no meio de uma multidão indistinta
Que não me diz mais nada,
Distingo ninguém tentando me dizer alguma coisa.
Apesar disso, passo apressado sem escutar
Aquilo que ninguém queria me contar.
Por que será então que,
Mesmo eu não correspondendo a tanta fidelidade
E a tão exato desvelo,
A presença de ninguém persiste assim
Tão intensa e tão densa
Junto a mim?
Será que, qual ave preta
E tal como noutra história,
Ninguém se afastará de mim
Nunca mais?
Emílio Burlamaqui*
*poeta brasileiro
2 comentários:
Olá Lino
Eu estou quase como esse poeta que hoje recita: Existo e não existo.
Desculpe este afastamento mas agora tenho uma vida de tal forma atribulada que pouco tempo tenho para me dedicar aos blogues, espero que compreenda e não pense mal de mim.
Um abraço ao amigo Minhoto
Bem pergunta meu amigo
aos lenços brancos do cais
Sei lá.
Abraço
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