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quarta-feira, maio 14, 2008

A invenção Há 60 anos foi declarada a independência do estado de Israel. Visitei a Palestina em 1994, integrado num grupo de cerca de cem pessoas que ocuparam, durante a permanência de uma semana, dois autocarros de turismo, cada um com o seu guia. Eram tempos de alguma descompressão, com os recém celebrados acordos de Oslo e Yitzhak Rabin no poder, se bem que a visita tenha coincidido com uma semana algo tensa, pois estava a ser negociado, creio que nos Estados Unidos sob os auspícios de Bill Clinton, o Tratado de Paz entre Israel e a Jordânia, que viria a ser assinado em Outubro desse ano. No autocarro em que viajei calhou-nos uma guia nascida em Buenos Aires, casada com o guia do outro autocarro, ele nascido no Rio de Janeiro, ambos emigrados para Israel na adolescência. Senhores duma sólida formação histórica (na altura, os guias israelitas eram sujeitos a exames anuais para renovarem a sua licença), eram extremamente liberais e nada preocupados com os preceitos religiosos do judaísmo (confessaram gostar muito de presunto e salpicão, a que apenas tinham acesso quando visitavam Portugal ou Espanha ao serviço da agência). Estranhei, por isso, a resposta que obtive quando abordei o problema do direito dos palestinos à terra. “Não têm”, disse-me a guia. “Esta terra pertence-nos há milhares de anos, enquanto eles (os palestinos) só cá estão desde o fim do século passado”. Ainda tentei argumentar, nas era como bater contra uma parede. Era o regresso do Egipto, o exílio de séculos provocado pelos romanos, o rol de perseguições e o regresso à “Terra Prometida”. Fiquei a pensar como era possível que pessoas deveras inteligentes tivessem uma postura tão radical relativamente à questão do direito à terra. Até que deparei, recentemente, com um artigo do historiador e jornalista israelita Tom Segev, intitulado Uma invenção chamada “o povo judeu”, cuja versão original se encontra disponível aqui. Existe, também, a respectiva tradução em castelhano. A doutrinação tem um enorme poder!

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