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terça-feira, junho 12, 2007

É tempo de dizer basta! Porque estou plenamente de acordo com os dizeres do Padre Mário de Macieira da Lixa, transcrevo, na íntegra, o seu "desabafo" de 4 de Junho:
Um mês depois, os pais da menina inglesa desaparecida na Praia da Luz, no Algarve, insistem na mediatização do seu drama. Para seu mal. E para mal de toda a sociedade portuguesa. Deveriam ter-se limitado a confiar o caso à investigação policial e sair de cena, logo após o primeiro momento do sucedido. Deveriam ter regressado ao país e ao exercício da sua profissão de médicos. Pelos vistos, ninguém os convenceu nesse sentido. E agora, nem eles sabem como desligar-se do teledrama em que se meteram e alimentam. O caso tornou-se num beco sem saída. Profundamente doentio para eles e para a generalidade da sociedade. A toda a hora e instante, mexem na ferida. E não a deixam cicatrizar. Doentiamente, querem obrigar a vida a parar. E a impor o seu drama a toda a sociedade portuguesa e ocidental. Para tanto, não hesitam em sair por aí a viajar pelos países, com os jornalistas à perna. Já foram a Roma falar com o papa Bento XVI que, estranhamente, se prestou a conversar uns segundos com eles, perante as câmaras de televisão. E ainda aceitou fazer de conta que abençoou uma foto da menina, como quem força simbolicamente o seu aparecimento. Tudo em vão, evidentemente. Há outros dramas, todos os dias, iguais a este e piores do que este. Mas, de há um mês para cá, ninguém os vê ou ouve falar deles. Só este tem espaço nas televisões. Estamos, por isso, à beira de nos tornarmos numa sociedade em estado de esquizofrenia. E sem saída. Primeiro, quiseram-nos convencer que o caso era não de polícia e de investigação policial, mas de rezas. Bastaria multiplicar as rezas na igreja paroquial da Praia da Luz, as missas católicas, as vigílias, conseguir que o país inteiro rezasse pelo menos uma ave-maria, que a menina apareceria como por milagre. Foi mobilizada a senhora de Fátima. O dia 13 de Maio passado foi o dia escolhido pelos devotos para a menina aparecer. Os milhares de pessoas concentrados em Fátima – a alienação é característica das multidões e dos rebanhos humanos, a consciência crítica e a lucidez só se manifestam em minorias esclarecidas e sábias – rezaram que se fartaram para que a senhora de Fátima trouxesse a menina de volta. Parece que a todo o momento, ela deveria descer como uma aparição naquele recinto público da nossa vergonha, trazida em braços por uns anjos. Tudo em vão. A senhora mostrou mais uma vez o que eu não me canso de dizer que ela é: uma senhora cega, surda e muda. E cruel. Ainda não sabiam? Pois se ela não foi capaz de valer nem sequer às crianças a quem se diz que apareceu e deixou morrer duas delas de pneumónica, como é que iria agora valer a uma criança inglesa desaparecida/raptada em Portugal, quando os respectivos pais descuidadamente jantavam com outros ingleses seus amigos num restaurante das redondezas da casa onde a menina se encontrava sozinha com os outros irmãos gémeos? Por quanto tempo mais vamos ter de suportar as televisões do país a falar deste drama e a mostrar os pais da menina de mão dada a entrar no avião e a sair do avião e os cabelos da mãe da menina enfeitados por fitinhas amarelas e verdes, as cores da esperança, respectivamente, em Inglaterra e Portugal? Livrem-nos deste teledrama, por favor! Tenham piedade de nós, antes que acabemos todos deprimidos e sem esperança. Exijam à Polícia que faça o seu trabalho sem mediatização, mas com eficiência. Que deixem de esperar por milagres que nunca acontecem, a não ser que nós os façamos acontecer com o nosso engenho e arte. E o nosso esforço. Exijam que a Polícia apure as suas técnicas, pois para isso existe e é contratada. Deixem-se de rezas manifestamente pagãs, que em lugar de ajudarem, só alienam quem as faz. Deixem-se de invocar o santo nome de Deus em vão. Deixem-se de correr para o templo da paróquia da Praia da Luz. Reconheçamos, isso sim, que a sociedade que estamos a criar é uma sociedade inumana, propícia ao aparecimento de monstros humanos, em lugar de seres humanos. E mudemos de rumo e de postura. Sejamos humanos, a começar pelas opções de modelos económicos e políticos que informam as nossas sociedades ocidentais. É sabido que quem semeia ventos colhe tempestades, e que quem semeia economias e políticas sem entranhas de humanidade colhe monstros humanos. Mudemos de rumo e de posturas. Reaprendamos a ser humanos. E as nossas crianças poderão voltar a ficar sozinhas em casa, porque quem lhes aparecer nunca será para lhes fazer mal, só poderá ser para brincar com elas e saborear da sua saudável e fecunda companhia. Haja, pois, quem convença os pais da menina inglesa desaparecida a regressarem ao seu país, para retomarem a sua vida de profissionais da medicina. Agora sem a filha que descuidadamente deixaram que fosse raptada. Mas com os dois gémeos que lhes restam e que precisam da sua presença e do seu cuidado.

2 comentários:

  1. Porque nada mais tenho a acrescentar a tão brilhante discernimento, resta-me, tal como ao lino, subscrever na íntegra.

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  2. Muito oportuno e muito lúcido.
    Belo post, caro Lino!

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