Sempre actual
O Zé Povinho faz hoje 132, pois apareceu pela primeira vez no 5º exemplar d'A Lanterna Mágica a 12 de Junho de 1875, num desenho alusivo aos impostos que então, como agora, massacravam os portugueses.
Saído da pena de Rafael Bordalo Pinheiro, o sucesso do Zé Povinho foi tal que o autor acabou por recriar no barro, em tinteiros, cinzeiros e apitos, aquela que é, ainda hoje, figura-símbolo do povo português.
POIS BONS-DIAS MEUS SENHORES...
Ainda não se deram bem conta da minha existência. E sou personagem importante, o meu nome é Zé Povinho. Lá mais para o fim do século hei-de ser bem representado mas quem me vai dar vida ainda não nasceu.
O país anda às voltas. Parece que não se entendem. Isto do Rei ter fugido para o Brasil veio trazer grandes complicações. Ora uns, ora outros, todos querem o poder.
Como se não bastasse a política, juntou-se-lhe uma guerra de irmãos - D. Pedro (o Liberal), D. Miguel (o Absolutista). E o poder vai saltando de mãos durante algum tempo até que as coisas se estabilizem.
No meio cá ando eu. Lá vou observando o que se passa. Não sou político, mas vou tirando as minhas conclusões. Não é que elas valham muito agora, mas há-de chegar um dia que todos encherão a boca com o meu nome. Aguento como posso, e quando as coisas me irritam, encho-me de força. Arreda que vai tudo em frente. Não acreditam?
Pois bem, eu vos conto.
Lá por volta de 1842, estava tudo mais sereno quando um camponês, vindo da Beira, faz um golpe de direita que o leva ao poder. Não, não é o tal, este chama-se Costa Cabral e é formado em Direito e o outro será em Finanças. Só que às vezes, com homens da mesma laia, a história repete-se...
A ditadura não é do meu agrado. Em 1846 vem a proibição de enterrar os mortos nas igrejas. Mais me faz desconfiar a história dos registos de propriedades. Só me faltava agora virem mandar nas nossas terras, e ao que consta querem vendê-las aos estrangeiros. Eu rebento. Pego nas forquilhas, nas enxadas, e vou em frente. Não é o governo que se vem meter agora nos meus assuntos. A revolta é geral. Depressa se espalha pelo país. Começo lá no Norte e vou descendo por aí abaixo. Chamam-lhe Maria da Fonte. Mas eu acho que sou apenas eu - o povo. Repito: o meu nome é Zé Povinho, pois então!
Tudo se complica, depressa a revolta se transforma em guerra civil - é a Patuleia.
Continue a ler aqui o saboroso texto de Cristina Vaz
Não sabia.
ResponderEliminarMuito interessante, como é habito em tudo o que coloca no blog.
Grande abraço
Interessante efeméride! :)
ResponderEliminarGrande ideia, lino. Um resumo interessante da nossa História e a celebração do símbolo maior do português: o zé povinho e aquilo que se tornou numa instituição,o célebre manguito".
ResponderEliminar:)
Obrigado a toda(o)s. O Zé continua a ter toda a actualidade. Mormente se pensarmos que a primeira manifestação "manguítica" foi contra a brutal carga de impostos.
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