OFÍCIO DE
LADRÃO
depois,
disseste que a vida se propagava em transcendente vertigem
e que a
seiva ao penetrar os poros do estrume fecundaria a visão
eu
perguntava, que dom seria aquele?
o do cego
assistindo à projecção dum filme mudo
ambos
conhecíamos o sabor do sangue e das açucenas tardias
mas, o tempo
atropelou tudo em redor
esquecemos
os objectos íntimos e o que estávamos ali a fazer
das palavras
restavam os pedúnculos ocos na respiração dum recente
medo
viajávamos
sem rumo
abandonei-te
à transgressão do voo e do açúcar
e quando
regressámos um ao outro
consentiste-me
que roubasse aos deuses o silêncio
e a
luminosidade do monólogo
(poeta
coimbrão que hoje faria 65 anos)
1 comentário:
Um poema espantoso de um grande poeta.
Abraço
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