sexta-feira, janeiro 11, 2013

OFÍCIO DE LADRÃO

depois, disseste que a vida se propagava em transcendente vertigem
e que a seiva ao penetrar os poros do estrume fecundaria a visão
eu perguntava, que dom seria aquele?
o do cego assistindo à projecção dum filme mudo

ambos conhecíamos o sabor do sangue e das açucenas tardias
mas, o tempo atropelou tudo em redor
esquecemos os objectos íntimos e o que estávamos ali a fazer
das palavras restavam os pedúnculos ocos na respiração dum recente
medo

viajávamos sem rumo
abandonei-te à transgressão do voo e do açúcar
e quando regressámos um ao outro
consentiste-me que roubasse aos deuses o silêncio
e a luminosidade do monólogo


(poeta coimbrão que hoje faria 65 anos)

1 comentário:

jrd disse...

Um poema espantoso de um grande poeta.

Abraço