sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Jogo sujo

Depois das notícias de que o Goldman Sachs e outros bancos ajudaram a mascarar a dívida pública da Grécia, foi agora posta a nu a existência de um esquema que é uma espécie de pescadinha de rabo na boca ou, como disse um especialista alemão, “é como comprar um seguro de incêndio para proteger a casa do vizinho - cria-se um incentivo para queimar a casa”.

Através de contratos conhecidos como credit-default swaps, os bancos e gestores de fundos de cobertura apostam na bancarrota de uma empresa ou, no caso da Grécia, de um país. Se a Grécia falhar o pagamento da dívida, os que possuírem tais derivados ganham (muito) dinheiro.

Tudo começou em Setembro quando uma pouco conhecida empresa londrina, com o apoio do Goldman Sachs, do JP Morgan Chase e de mais um dúzia de outros bancos lançou um índice (iTraxx SovX Western Europe Índex), criando a tal pescadinha de rabo na boca: à medida que os bancos e outras entidades se apressam a investir naquele derivado, o custo de segurar a dívida grega cresce; alarmados por este sinal de baixa do mercado, os investidores em obrigações fogem das obrigações do tesouro gregas, tornando mais difícil a emissão de dívida para o governo se financiar; isso, por sua vez, aumenta a ansiedade e tudo recomeça, numa espiral de afundamento permanente, como é claramente explicado neste artigo. E se a Grécia se afunda, há outros candidatos a seguirem-lhe o exemplo, a começar pelos outros membros do grupo chamado dos PIIGS (um acrónimo insultuoso que joga com o termo inglês “porcos”) do qual fazemos parte, embora pela minha experiência pessoal sejamos muito menos porcos do que outros que se consideram limpinhos.

Entretanto, pressionada pelo criticismo generalizado dos líderes europeus, a Reserva Federal, numa atitude nunca vista, vai analisar o que andam a fazer a este respeito os malabaristas de Wall Street. Espero que a mão não lhe doa.

3 comentários:

jrd disse...

"Engenharias" financeiras...

Mar Arável disse...

No sistema abutre

com o devido respeito pelos animais

quanto a porcos
a diferença está nas patas

Abraço

Manuel Veiga disse...

uma imundice pegada...
interessante e o oportuno artigo.

abraços