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sábado, junho 13, 2015

Fantasmas

bateram à porta - não abriste
estavas a convocar nesse instante a brancura
dos dados por lançar e o corvo do sr. poe mais
o maléfico negrume dos mares de melville e
as mulheres da patagónia que estão sentadas
ao fim da tarde
à beira de insondáveis glaciares

seguias absorto o percurso daquele que comprava
revistas tabaco souvenirs e via os comboios
sumirem-se na gare de munique - mais a rua onde
te encontro e te perco rapaz
a quem se esqueceram de dizer que tinha um corpo
de papel bom para amachucar com os dentes
é verdade - bateram à porta
mas não podias abrir
nesta casa só sobrevive a memória turva

dos poemas amados - mais ninguém mais nada
além da parede de lodo e da caixa de sapatos
cheia de sílabas preciosas - e uma mesa pequena
com um albatroz empalhado para te vigiar a alma

a um canto da sala o cigarro continua a arder
na ponta dos dedos do teu retrato escondido
atrás do sofá - virado parar a parede
como tu
coberto de bolor de sustos e de aborrecimentos


(Al Berto faleceu faz hoje 18 anos)

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