A taça de
chá
O Luar
desmaiava mais ainda uma máscara caída nas esteiras
bordadas. E
os bambus ao vento e os crisântemos nos jardins
e as garças
no tanque, gemiam com ele a adivinharam-lhe o fim.
Em roda
tombavam-se adormecidos os ídolos coloridos e os
dragões
alados. E a gueixa, porcelana transparente como a
casca de um
ovo da Íbis, enrodilhou-se num labirinto que nem
os dragões
dos deuses em dias de lágrimas. E os seu olhos ras-
gados,
pérolas de Nanquim a desmaiar-se em água, confundiam-se
cintilantes
no luzidio das porcelanas.
Ele, num
gesto último, fechou-lhe os lábios co´as pontas dos dedos,
e disse a
finar-se: - chorar não é remédio; só te peço que não me
atraiçoes
enquanto o meu corpo for quente. Deixou a cabeça
nas esteiras
e ficou. E ela, num grito de graça, ergueu alto os braços
a pedir o
Céu para Ele, e a saltitar foi pelos jardins a sacudir as mãos,
que todos os
que passavam olhavam para Ela.
Pela manhã
vinham os vizinhos em bicos dos pés espreitar por entre os
bambus, e
todos viram acocorada a gueixa abanando o morto com um
leque de
marfim.
A estampa do
pires é igual.
(Almada
Negreiros nasceu faz hoje 122 anos)
Alma até Almada!
ResponderEliminarAbraço