O poema
As árvores
têm o nome de árvores
e a pedra é
pedra. Mas a mulher é árvore
e no pátio
um sopro: uma lagartixa sem nome.
A mão
desliza nos caminhos minúsculos.
A caneta
escreve com a saliva das lâmpadas.
Alegria do
sono numa virilha obscura.
Alguém
escreve na erva e a erva é a sua camisa.
Tudo se
traduz: músculos, nervos, papeis.
Come-se a
epiderme frágil de um fantasma.
Quem ouve
agora a voz cheia de areia?
As palavras
agitam-se entre silhuetas esguias.
Dedos
acariciam pedras e folhas, ventres.
Fibras e
tendões produzem suor e tinta.
O alento das
árvores invade os pequenos vocábulos.
Sem língua e
sem dedos o poema caminha
num verde
corredor para um arbusto de água.
(António
Ramos Rosa nasceu faz hoje 90 anos)
(...)
ResponderEliminarPor isso o poema é uma tensão constante
entre o que se sente e a sua língua de vento.
(...)
ARR