A Noite
Mas a noite
ventosa, a noite límpida
que a
lembrança somente aflorava, está longe,
é uma
lembrança. Perdura uma calma de espanto,
feita também
ela de folhas e de nada. Desse tempo
mais
distante que as recordações apenas resta
um vago
recordar.
Às vezes volta à luz do dia,
na imóvel
luz dos dias de Verão,
aquele
espanto remoto.
Pela janela
vazia
o menino
olhava a noite nas colinas
frescas e
negras, e espantava-se de as ver assim tão juntas:
vaga e
límpida imobilidade. Entre a folhagem
que
sussurrava na escuridão, apareciam as colinas
onde todas
as coisas do dia, as ladeiras
e as árvores
e os vinhedos, eram nítidas e mortas
e a vida era
outra, de vento, de céu,
e de folhas
e de coisa nenhuma.
Às
vezes regressa
na imóvel
calma do dia a recordação
daquele
viver absorto, na luz assombrada.
(poeta
italiano falecido faz hoje 63 anos)
Tradução de Carlos Leite
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