Selena foi assassinada há 17 anos, com apenas 23 anos de idade
How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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sexta-feira, março 30, 2012
Para os que virão
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.
Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
( Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros. )
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.
(poeta brasileiro que hoje faz 86 anos)
quinta-feira, março 29, 2012
In Memoriam
Reflexão Sobre a Reflexão
Terrível é o pensar.
Eu penso tanto
E me canso tanto com meu pensamento
Que às vezes penso em não pensar jamais.
Mas isto requer ser bem pensado
Pois se penso demais
Acabo despensando tudo que pensava antes
E se não penso
Fico pensando nisso o tempo todo.
Millôr Fernandes
Antologia
Uma antologia é uma conclusão,
Mas ela apresentou-se assim, no meio daquelas pessoas.
Detalhou o seu melhor
Nas melhores palavras que executavam o meu silêncio.
Eu apresentei-me como poema do dia, como sempre fiz.
Apresentei-me como o último retrato do sol
Ou a última nuvem do romance que li.
Para minha surpresa, um dia mais tarde,
Ao ler-lhe a novíssima edição da antologia,
Apareci eu, vestido deste poema.
(poeta tavirense que hoje faz 30 anos)
quarta-feira, março 28, 2012
ELEGÍA
(En Orihuela, su pueblo y el mío, se
me ha muerto como del rayo Ramón Sijé,
con quien tanto quería).
Yo quiero ser llorando el hortelano
de la tierra que ocupas y estercolas,
compañero del alma, tan temprano.
Alimentando lluvias, caracolas
y órganos mi dolor sin instrumento.
a las desalentadas amapolas
daré tu corazón por alimento.
Tanto dolor se agrupa en mi costado,
que por doler me duele hasta el aliento.
Un manotazo duro, un golpe helado,
un hachazo invisible y homicida,
un empujón brutal te ha derribado.
No hay extensión más grande que mi herida,
lloro mi desventura y sus conjuntos
y siento más tu muerte que mi vida.
Ando sobre rastrojos de difuntos,
y sin calor de nadie y sin consuelo
voy de mi corazón a mis asuntos.
Temprano levantó la muerte el vuelo,
temprano madrugó la madrugada,
temprano estás rodando por el suelo.
No perdono a la muerte enamorada,
no perdono a la vida desatenta,
no perdono a la tierra ni a la nada.
En mis manos levanto una tormenta
de piedras, rayos y hachas estridentes
sedienta de catástrofes y hambrienta.
Quiero escarbar la tierra con los dientes,
quiero apartar la tierra parte a parte
a dentelladas secas y calientes.
Quiero minar la tierra hasta encontrarte
y besarte la noble calavera
y desamordazarte y regresarte.
Volverás a mi huerto y a mi higuera:
por los altos andamios de las flores
pajareará tu alma colmenera
de angelicales ceras y labores.
Volverás al arrullo de las rejas
de los enamorados labradores.
Alegrarás la sombra de mis cejas,
y tu sangre se irán a cada lado
disputando tu novia y las abejas.
Tu corazón, ya terciopelo ajado,
llama a un campo de almendras espumosas
mi avariciosa voz de enamorado.
A las aladas almas de las rosas
del almendro de nata te requiero,
que tenemos que hablar de muchas cosas,
compañero del alma, compañero.
(poeta e revolucionário espanhol falecido nas masmorras do franquismo faz hoje 70 anos)
Canta Joan Manuel Serrat
terça-feira, março 27, 2012
segunda-feira, março 26, 2012
domingo, março 25, 2012
Portal de luz
Dá-me teu braço
e deixa que eu te leve
em passos largos
e faça de meus mares
constelações inteiras,
onde todas as estrelas
sejam partes de tua casa.
Dá-me tua mão
e deixa que eu te embale
no suave calor do meu braço
na essência de tua pele
no suave tocar de nossos lábios.
Dá-me tuas horas
e deixa que eu te faça eterna
terna
como o encontro de nossos olhos
na cumplicidade de nossos guias
na paz de nossos dias
na hora do nosso encontro.
Dá-me teus sonhos
e deixa que eu não fuja deles
que eu te abrace no meio do medo
na hora do credo
na meia luz em que somos inteiros.
Dá-me teu mundo
e deixa que eu me inclua em teu nome
registrando no portal da esperança
um só sobrenome
lido com os olhos de nossa alma...
(poeta brasileiro)
sábado, março 24, 2012
Boêmia Triste
Eramos três em torno à mesa. Três que a vida,
Na sua trama de ilusões urdida,
Juntou ao mesmo afeto e na mesma viuvez...
Um músico, um pintor, e um poeta. Éramos três...
O primeiro falou: - Veio da melodia
De um noturno, a mulher que me fez triste assim.
Amei-a como se ama a fantasia
E ela sendo mulher fugiu de mim...
Hoje tenho a alma como um piano vivo
Que mão nenhuma acordará talvez...
É por esse motivo que eu sou mais desgraçado que vocês...
Disse o segundo: - Meu amigos, a sorte golpeou-nos, com a mais vil ingratidão
A mim levou-me à morte, o que eu tinha de melhor
A ilusão de que a vida era ilusão.
A força, a graça, o espírito, a beleza
A estátua humana olímpica e pagã
Espelho, natural da natureza
Nota da flauta mágica de Pan
Morreu com ela a vida, a luz, a cor
Manhã de sol e tarde de ametista
A paleta e a esperança de um pintor...
Todo o delírio de um impressionista.
Fez-se um grande silêncio em torno à mesa,
Silêncio de saudade e tristeza...
O terceiro baixou os olhos devagar
Disse um nome baixinho e não pode falar...
(poeta pernambucano nascido a 24 de Março de 1889)
sexta-feira, março 23, 2012
Viagem às Minas
Cicatrizes. Matrizes. Hemoptises. O sol posto,
no rosto lavrado. Escalavrado. A lavra lágrima
decorre, colorada. O escropo cáustico,
amarrado e amargo em punho cego,
prossegue seu trabalho. Em vão me pego
na vertente da areia que me sabe. Eu sou, tu és,
o amplo oceano do céu é uma amplidão parada,
o eterno
roreja tempo na pedra. Ó tempo eterno
da pedra, fundado e decifrado,
mais que a barca de Pedro, pedra viva
vivendo o seu silêncio - água múrmura.
À luz da tarde
verte seus ecos e mistérios,
nas montanhas tamanhas. Arde a tarde,
e a tarde arde. É tarde, é noite, é foice, é antemanhã.
O arco-íris,
suscitado em sua cova, ressuscita. Lua nova e sol posto
nascem do mesmo estojo. Pojo. Bojo. Sangradouro
de minérios domados. Esses gados.
(poeta mineiro falecido há 24 anos)
quinta-feira, março 22, 2012
Dia Mundial da Água
Peter Brabeck-Letmathe, in Jornal de Negócios
Peter Brabeck-Letmathe é presidente da Nestlé, e presidente da Parceria Público-Privada 2030 Water Resources Group (WRG).
Enquanto o presidente de uma multinacional elogia a gestão pública da água, por cá os aprendizes dos "rapazes de Chicago" querem entregar o ouro ao bandido, privatizando o que é de todos.
Keith Relf (The Yarbirds/Renaissance) faria hoje 69 anos. Morreu aos 33 electrocutado quando tocava, em sua casa, uma guitarra eléctrica com deficiente ligação "terra".
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quarta-feira, março 21, 2012
Solomon Burke faria hoje 72 anos. Faleceu aos 70, pouco depois desta actuação no Cascais Jazz 2010, deixando 21 filhos, 90 netos e 19 bisnetos.
terça-feira, março 20, 2012
segunda-feira, março 19, 2012
Verdade Convertida
Se não podes mudar o mundo,
muda o teu mundo!
Procura:
aquele pedaço da Felicidade
que julgas perdida;
no fundo
da Verdade
convertida.
Se não podes mudar o outro,
muda o teu outro!
Conquista:
aquele pedaço da Alma
que julgas contida;
no rosto
da Verdade
convertida.
Se não podes mudar a gente,
muda a tua gente!
Educa:
aquele pedaço da Luz
que julgas escondida;
na mente
da Verdade
convertida.
Se não podes mudar a guerra,
muda a tua guerra!
Respeita:
aquele pedaço da Paz
que julgas vendida;
à Terra
da Verdade
convertida.
Se não podes mudar nada,
muda o teu tudo!
Ama:
aquele pedaço da humanidade
que julgas mantida;
à entrada
da Verdade…
MENTIDA!
(poeta almadense que hoje faz 33 anos)
domingo, março 18, 2012
sábado, março 17, 2012
sexta-feira, março 16, 2012
Auto-retrato
Espáduas brancas palpitantes:
asas no exilio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
(Natália Correia faleceu faz hoje 19 anos)
Romântica
Rasgaram as névoas
Que há pouco embrulhavam
As margens lendárias do rio Mondego;
As águas acordam
E ficam pasmadas
Reflectindo o azul da manhã radiante...
Sinto-me tão perto de tudo que é triste
Que os meus olhos sofrem
Com esta alegria - talvez provocante.
Coimbra, serena, mostra o seu contorno
Airosa e gentil - como fascinada
Na luz que é mais viva, difusa, doirada...
Tudo nela canta no alto silêncio
Das coisas divinas que falam do amor;
- Aqui, uma folha que tombou na aragem,
Mais além, uma flor...
Altiva -
Guarda na história dos tempos
A lembrança diluída
Dos seus romances guerreiros
Mesclados de sonho.
E a paisagem nua
Mais lúcida e bela,
Recortada e linda
Nesta claridade... - o dia floresce,
Aumenta - e as águas,
Translúcidas, verdes
- São verdes agora!
Ganham movimento,
Têm vibração,
Murmuram,
E passam
- Como aquela voz que encheu de saudade
O meu coração
(poeta abrantino falecido há 53 anos, exilado no Brasil)
Ars Poética
Da desordem nunca
erguerei um verso.
Bem sei
que na bela superfície de um momento,
existe o alento
da Poesia.
Mas é do futuro,
é do instante que serve
a continuidade da vida
em sentimento,
que desejo o meu poema.
O Homem,
sofrido a prosseguir
na sua eternidade construída -
- eis o meu tema.
(poetisa paulista que faria hoje 79 anos)
quinta-feira, março 15, 2012
Enigma
A lágrima sem fim, a lágrima pesada
Que eternamente cai do alto desta gruta
Representa alguma alma estranha, desolada
Que mora a soluçar dentro da rocha abrupta?
Esta alma quem será? Não sei! Mistério fundo...
Entretanto eu pressinto alguém que se debruça
E baixinho me diz num gemido profundo:
"Existe um coração na pedra que soluça..."
(poeta norte-riograndense nascido a 15 de Março de 1874)
quarta-feira, março 14, 2012
Fragmento
HÁ FLORES tristes, que nascendo à noite
Só têm o açoite
Do cruento sul
E sem que um raio lhes alente a seiva,
Rolam na leiva
De seu vil paul.
Eu sou como elas. A vagar sozinho
Sigo um caminho
De ervaçais e pó
A luz de esp'rança bruxuleia a custo
Tremo de susto,
De morrer tão só.
(poeta baiano nascido a 14 de Março de 1847)
terça-feira, março 13, 2012
segunda-feira, março 12, 2012
O Amor aos Sessenta
Isto que é o amor (como se o amor não fosse
esperar o relâmpago clarear o degredo):
ir-se por tempo abaixo como grama em colina,
preso a cada torrão de minuto e desejo.
Ser contigo, não sendo como as fases da lua,
como os ciclos de chuva ou a alternância dos ventos,
mas como numa rosa as pétalas fechadas,
como os olhos e as pálpebras ou a sombra dos remos
contra o casco do barco que se vai, sem avanço
e sem pressa de ausência, entre o mito e o beijo.
Ser assim quase eterno como o sonho e a roda
que se fecha no espaço deste sol às estrelas
e amar-te, sabendo que a velhice descobre
a mais bela beleza no teu rosto de jovem.
(escritor paulista que faz hoje 81 anos)
Reminiscência
Na noite fria
Tua voz quente
expunha anseios tais,
tinha um tal despudor,
vinha tão nua,
que minha boca sentiu desejos
de vesti-la de beijos...
Na noite fria
tua voz quente
errava, louca de destemor,
pelos gelados e ermos espaços...
E tive pena de tua fala...
E abri minha alma para abrigá-la
Na noite fria
tua voz quente
pediu tanto,
chorava tanto...
Que minha vida te dei,
com a mágoa
com que se lança
velho tesouro às mãos travessas
de uma criança
(poetisa carioca nascida a 12 de Março de 1893)
domingo, março 11, 2012
Antes que Seja Tarde
Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.
(Manuel da Fonseca faleceu faz hoje 19 anos)