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domingo, abril 03, 2011


O poço

Amigos, silêncio.
Estou vendo o poço.

No fundo profundo eu me vejo
presente. Não é
cacimba de estrelas. Amigos, é o poço.

Apenas o poço. A vela na lama
como um dedo de fogo.
Ânsia de afogado,
suspiros em bolhas.
O susto no sono.
A sombra descendo sobre os aposentos,
o suor nos espelhos. A sombra
abafando a criança, a sombra fugindo.
A mão pesada sobre a boca torta,
o grito parado no rosto.
O copo d’água em goles trêmulos...

Amigos, silêncio.
Eu vejo o poço.

O vento da hora morta. Os avós sorrindo,
tão meigos sorrindo. E a morte tão viva!
(Minha mãe não esperou a guerra,
não sabe notícias do mundo, não responde).

A tosse acordando os irmãos,
e eu, pela madrugada, carregado nos ombros de meu pai.


(poeta mineiro nascido a 3 de Abril de 1911)

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