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quinta-feira, março 05, 2009

Injustamente esquecido Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello morreu há 25 anos. Conheci-o no início da minha adolescência, na primeira metade da década de sessenta, quando se dava ao trabalho de divulgar o folclore português, sobretudo o minhoto, nas festas anuais dos concelhos do distrito de Viana do Castelo, seu distrito de adopção. Sempre com o seu inseparável cigarro (só não os acendia uns nos outros porque um aristocrata não faz isso) e o mesmo ar altivo que mostrava na TV, mas uma pessoa extremamente delicada e com a maior paciência do mundo para explicar o segredo do folclore aos putos. Autor de uma obra riquíssima, tem sido injustamente ignorado, talvez por alguma conotação com o regime pelo facto de ter sido membro dos Júris dos prémios do secretariado da propaganda nacional. Se teve mais alguma conivência, não sei nem me interessa muito. Lembro-me dele porque sempre o considerei um homem bom e porque me ensinou imensas coisas e, não tendo feito de mim um grande seguidor do folclore, tornou-me num indefectível da música de raízes celtas e de toda a música étnica de qualidade (a minha paixão pelo canto gregoriano, pela clássica, pelo rock e pelo jazz, sem esquecer tudo o que é música não pimba de fala portuguesa, veio doutras influências). Cisne Amei-te? Sim. Doidamente! Amei-te com esse amor Que traz vida e foi doente... À beira de ti, as horas Não eram horas: paravam. E, longe de ti, o tempo Era tempo, infelizmente... Ai! esse amor que traz vida, Cor, saúde... e foi doente! Porém, voltavas e, então, Os cardos davam camélias, Os alecrins, açucenas, As aves, brancos lilases, E as ruas, todas morenas, Eram tapetes de flores Onde havia musgo, apenas... E, enquanto subia a Lua, Nas asas do vento brando, O meu sangue ia passando Da minha mão para a tua! Por que te amei? - Ninguém sabe A causa daquele amor Que traz vida e foi doente. Talvez viesse da terra, Quando a terra lembra a carne. Talvez viesse da carne Quando a carne lembra a alma! Talvez viesse da noite Quando a noite lembra o dia. - Talvez viesse de mim. E da minha poesia... Pedro Homem de Mello

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