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terça-feira, novembro 18, 2008

Light my fire O cara chega ao escritório cantarolando um clássico do The Doors - mas isso é uma provocação, por favor, não faz! Ela, que sempre adorou o Jim Morrison com aquele timbre poderoso de contrabaixo e um embalo meio jazzístico. Aquele jeito malvado num rosto de menino. Quando a amiga lhe disse ao telefone “o Jim tá morto, morreu de overdose, na banheira”, tirou o jeans preto do armário, fez voto de silêncio, e pelo resto do mês desfilou seu luto. Até pra morrer o filho da mãe inventa um estilo. Afinal, não é o que importa? Ter estilo? Ela era tão nova. E boba. Bobinha. Na cabeceira da cama, onde deveria impor-se um crucifixo de conter a libido mal domada das mocinhas, vigiava o ídolo. Tinha noites em que o roqueiro voltava do além via pôster fazendo-a despertar inteira. Bom, quando o monumento entra embalando a voz “vem bebê acender o meu fogo”, numa onda tipo não sei de nada, ela se faz tocha de incendiar caminhos - vem por aqui, por aqui - ou um interruptor capaz de ativar milhões de watts em testosterona. Aí, fica difícil... Vai concentrar no trabalho, vai, uma falação medonha, quanta miudeza boa pra se guardar num armarinho. E ela ali - mulher, teu nome é paciência - num esforço capricorniano mantém a pose profissional o quanto pode. Transbordando The Doors por entre frestas e aberturas. Algumas vezes, o que temos de melhor é a memória. A loira lembrou de coisas no momento em que despachava assuntos. O sabor retornando à rosa boca. A boca que se impôs. Absoluta. No sexo absoluto dele. E enquanto a cabeça era empurrada repetidas vezes sufocando-a em direção ao todo, suas narinas se dilatavam num esforço de guardar-lhe o almíscar. Lembrou tantas bobagens ao encará-lo de frente... Deliciosamente burra durante o expediente. Myrian Beck Publicado no jornal digital VIAPOLÍTICA

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