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domingo, junho 15, 2008

Eu confesso Confesso e não nego que sou carioca. Da gema. Do bairro do Estácio. E também do subúrbio carioca. Carioca do Rio ex-capital. Da ex-Guanabara. Carioca apaulistado agora. Carioca sem sotaque agora. Carioca descariocado agora. Confesso que sou professor. Professor que gosta de ensinar mais do que explicar. Sugerir mais do que proibir. Elogiar a leitura mais do que a obrigatória tortura. Professor no falar e no agir, no sorrir e no pensar, no calar e no sentir. Confesso que sou leitor compulsivo, fanático, inveterado. Confesso que gasto dinheiro demais com os livros. Que sinto prazer em entrar num sebo, numa livraria, numa biblioteca. Que os livros são o meu tormento e o meu céu. Confesso e não nego que sou escritor. Escritor escravo do escrever. Escritor que passa o dia escrevendo mentalmente o que há de escrever no papel ou na tela. Escritor que elogia a leitura, o leitor criativo, a arte da palavra. Confesso que sou católico. Católico por um triz. Que dorme ao ouvir sermões cansativos. Católico apostólico romântico. Católico sem eira nem beira, sem carteirinha, sem ligação oficial com movimentos e outros elementos. Confesso que gosto de falar. Na palestra, no debate, na mesa-redonda, no palco, na padaria, no barbeiro. E gosto de calar-me, recluir-me, fugir, enterrar-me vivo no meio dos livros. Confesso que não gosto de me confessar, de revelar quem sou, o que faço, o que penso, em que acredito. Confesso que gosto de me expor, contar o segredo, confidenciar, abrir o coração. Confesso que não gosto de futebol na terra do futebol. Que não gosto de carnaval na terra do carnaval. Que não gosto de praia na terra das muitas praias. Confesso e peço perdão. Confesso que gosto do Brasil, com todas as suas... As nossas contradições e limitações, sua carga tributária e suas festas, seus políticos e seus apresentadores de TV, seu calor e seu frio, sua seca e sua enchente, suas belezas e misérias. Confesso e não nego que muito pouco do Brasil conheço, mas guardo com carinho um caminhar nas calçadas de Manaus, uma partida de xadrez nas calçadas de Florianópolis, rápidos passeios de carro nas ruas de Porto Alegre, Campo Grande, Natal, Belo Horizonte, Recife, Curitiba, Campinas, Ribeirão Preto, Bauru, São Luís, Salvador, Palmas... Confesso. Não nego. Confesso dizer a verdade. E um pouco mais do que isso. Gabriel Perissé* *professor e escritor Publicado no jornal digital Correio da Cidadania

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