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quarta-feira, outubro 17, 2007

Hipocrisias A ditadura militar na Birmânia (rebaptizada de Mianmar pela actual junta) dura há 45 anos, sem que a comunidade internacional se tenha incomodado grandemente com o que se passa naquele país do sudoeste asiático, apesar de algumas sanções económicas por parte da União Europeia, do Canadá e dos Estados Unidos. Até que a recente “Revolução de Açafrão”, assim chamada devido à cor das túnicas dos monges budistas que iniciaram e lideraram os protestos, veio desencadear um coro de críticas sem precedentes e ameaças de novas sanções, quer da União Europeia quer dos Estados Unidos. Do lado de lá do Atlântico, às palavras do Sr. Bush e da Sra. Rice juntaram-se críticas muito contundentes de alguém que não costuma pronunciar-se publicamente: a Primeira-dama Laura Bush. Mas, mais uma vez, a comunicação social não fez os trabalhos de casa, isto é, explicar aos iletrados como eu quem sustenta a junta militar. E aí, um nome chama atenção: a petrolífera estado-unidense Chevron, que a Sra. Rice deve conhecer bem, já que foi membro da sua direcção durante 10 longos anos, antes de se tornar conselheira de segurança do Sr. Bush e, depois, sua Secretária de Estado. Com efeito, a maior riqueza da Birmânia são as reservas de gás natural, controladas pela junta em sociedade com a Chevron, a francesa Total e uma empresa petrolífera tailandesa. As plataformas de gás natural situadas no alto mar enviam o gás para a Tailândia através de um gasoduto que foi construído com mão-de-obra escrava, obrigada à servidão pelo regime militar birmanês. A sócia inicial do oleoduto, a petrolífera californiana Unocal, foi processada pela EarthRigths International por utilizar mão-de-obra escrava; logo que o processo foi resolvido fora dos tribunais, a Chevron comprou-a. A Total está correntemente a ser processada nos tribunais da França e da Bélgica pelo mesmo motivo. Escusado será dizer que a Chevron e a Total não foram beliscadas pelas sanções, apesar das repetidas ameaças do seu reforço por parte da União Europeia (com a França à cabeça) e dos Estados Unidos, e que continuam a operar livremente as plataformas e o gasoduto. Enquanto assim for, não há sanções que resultem.

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