Sonho com o dia em que o Poder
e todos os seus homens de mão
sejam vistos como o problema maior
da Humanidade e não como a solução
ou parte da solução dos problemas da
Humanidade. O dia em que ninguém seja
homem de mão do Poder e ele morra.
Mas como há-de chegar esse dia
se o Poder como anti-Deus que é
criou um universo simbólico dentro
do qual todos nos movemos e nos
(in)comunicamos? É uma Babel
que nos deixa a falar sozinhos mas
o Poder chama-lhe Comunicação.
Fomos criados criadores e irmãos
em feminino e em masculino. Soprados
para sermos Abel uns para os outros. Mas
o sopro do Poder apodera-se de nós
e o Abel que somos torna-nos Caim
mentirosos e assassinos quanto ele
e criadores de um Mundo de loucos.
Houve um Homem nascido de
mulher como os demais que preferiu
viver em deserto o tempo todo a
transformar-se num homem de mão
do Poder. Acabou crucificado às suas
mãos. Mas deixou a descoberto desde
então que todo o Poder é assassino.
Passaram-se os anos. Mil e outros mil
desde que sucederam essas coisas
e a Treva continua aí a cobrir a Mente
dos homens. Muitos deles hoje mais
parecem crianças grandes sedentos
do Poder. Pensam-se salvadores como
Abel. E são assassinos como Caim.
Vestem uns de papa. Vestem outros
de Primeiro Ministro e de Presidente
da República. Tornam-se outros donos
de bancos que juntam Dinheiro como
areia das praias. Há quem aceite ser
reitor de santuário rico e influente. Mas
de Medo e Morte é o sopro de todos eles.
Prefiro viver em deserto a vida inteira
a frequentar os palácios e os manjares
do Poder e dos seus homens de mão
onde se conversam banalidades e se
alimentam megalómanos projectos do
tamanho dos seus vazios e das suas
frustrações. É assim que sou fecundo.
Não falta quem me acuse de subversão
e de deslealdade. E me ameace com
excomunhões e outros castigos sem
nome. Não me perdoam que também
eu revele que são Mentira e Homicídio
o Poder e seus homens de mão. Nem
assim deixo de ser discípulo de Jesus.
Sem comentários:
Enviar um comentário