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domingo, março 25, 2007

... e sonhadores

Sonhadores, sempre existiram. Mas muito poucos conseguiram transformar o seu sonho em realidade. E Jean Monnet foi um desses "pouc0s".

Numa Europa em ruínas, na sequência da megalómana loucura ariana do Adolf, da estupidez do Benito e do silêncio cúmplice do Francisco e do António, e face à ameaça eminente da guerra fria, um francês, internacionalista pragmático bem relacionado, sonhou uma Europa Unida .

Propôs ao Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Robert Schuman, e ao Chanceler alemão Konrad Adenauer, criar um interesse comum entre os seus países: a gestão, sob o controlo de uma autoridade independente, do mercado do carvão e do aço. A proposta foi formulada oficialmente em 9 de Maio de 1950 pela França e fervorosamente acolhida pela Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo.

O Tratado que instituiu a primeira Comunidade Europeia, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), foi assinado em Abril de 1951, abrindo as portas à Europa das realizações concretas. Seguir-se-iam outras realizações, até que, em 25 de Março de 1957, foi assinado o Tratado de Roma, que instituiu a CEE, criando os instrumentos e mecanismos de tomada de decisão que permitiram dar expressão tanto aos interesses nacionais como a uma visão comunitária. Tinha nascido a actual União Europeia.

Mais de 20 anos após a adesão de Portugal e no cinquentenário do Tratado, a memória num poema premonitório de Fernando Pessoa:

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez,
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Fernando Pessoa

Poesia do Eu - Obra Essencial de Fernando Pessoa - Círculo de Leitores, Setembro de 2006.

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