quinta-feira, maio 17, 2012

AUTOBIOGRAFIA

Algumas poucas tabernas, velho armário,
cão de folhas,
árvores do escuro ladram,
eu corro pelas páginas no focinho do cão.
A garrafa. O gin gira
e fere-me lábios e aviva o vinho velho.
Velho vidro. Espalha o espelho (as palavras
no charco do álcool).
Nunca o coração bebe,
a árvore ondulante bebe,
o coração obscuro vive a violência
do meu ponto de vista,
mas habita-me
na confissão
se os cães da retórica velhos
correm contra a pele,
quando as lágrimas os soltam
e as páginas inesperadamente se derramam.
E o meu armário fala, fantasma arborescente.
Em vez de um lírio, as minhas fezes na boca,
a espuma da copa. Álcool.
É o mar.
Choro assombrado.


(poeta espinhense que hoje faz 64 anos)

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