Jason Mraz - I Won't Give Up
How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
quinta-feira, maio 31, 2012
Cai-me no
colo Amor...
Cai-me ao
colo Amor de súbito
Um susto, um
esgar, um bramido.
Estertor de
tudo – desamor Amor ao avesso?
Quero-vos
lúmpen, maltrapilha, campesina
Quero-vos
riacho e manso açude.
Amor,
entanto, vocifera pontiagudo
Mural de
rochas e lascas e espelhos e cardumes
A fingir do
Amor – casta figura? –
O Desamor em
pêlo, às turras,
Aos vozeios,
facas, murros, unhas
A alvoroçar
o silêncio de agulhas.
(escritor
paranaense falecido faz hoje 2 anos)
quarta-feira, maio 30, 2012
POESIA DA
VIDA EM MARCHA
A poesia da
vida em marcha
tem ritmo
diferente.
Ritmo
irregular e desigual
de milhões
de martelos
batidos
descompassadamente
por milhões
de mãos;
de milhões
de enxadas
movidas
desordenadamente
por milhões
de braços;
de milhões
de pés
andando
desesperadamente
não se sabe
para onde.
A poesia da
vida em marcha
tem música
diferente.
Música sem
som
das sirenes
das oficinas,
dos apitos
das locomotivas,
dos roncos
dos motores,
dos gritos
das revoltas interiores
dos homens que
sofrem nas oficinas,
queimam os
pulmões nas caldeiras das locomotivas
e morrem de
fome nas fábricas de motores.
A poesia da
vida em marcha
tem rimas
diferentes.
Rimas sem
música,
sem versos
que terminam em sílabas iguais.
Rimas de
palavras diferentes,
com o mesmo
sentido na boca dos que sofrem.
Rimas de
palavras que rimam
apenas na
idéia,
no
pensamento.
Rimas
estranhas
de tirania
com sofrimento,
de
sofrimento com união.
De união com
liberdade.
A poesia da
vida em marcha
tem cadência diferente.
Cadência de
passos trôpegos
das crianças
sem pão,
das mulheres
sem lar,
dos homens
sem trabalho.
Cadência
brutal
das patas de
cavalos pisando carne,
de patas de
cavalos pisando sangue
dos homens
sem trabalho,
das mulheres
sem lar,
das crianças
sem pão.
Cadência
violenta
de braços se
estirando num esforço cada vez maior
como quem
empurra qualquer coisa.
Cadência
confiante, enérgica,
de punhos
cerrados batendo,
batendo,
batendo,
de uma só
vez,
simultaneamente,
compassadamente,
como quem
derruba qualquer coisa.
(Mário Lago
faleceu faz hoje 10 anos)
terça-feira, maio 29, 2012
Diante do
mar
Oh, mar,
enorme mar, coração feroz
de ritmo
desigual, coração mau,
eu sou mais
tenra que esse pobre pau
que,
prisioneiro, apodrece nas tuas vagas.
Oh, mar,
dá-me a tua cólera tremenda,
eu passei a
vida a perdoar,
porque
entendia, mar, eu me fui dando:
“Piedade,
piedade para o que mais ofenda”.
Vulgaridade,
vulgaridade que me acossa.
Ah,
compraram-me a cidade e o homem.
Faz-me ter a
tua cólera sem nome:
já me cansa
esta missão de rosa.
Vês o
vulgar? Esse vulgar faz-me pena,
falta-me o
ar e onde falta fico.
Quem me dera
não compreender, mas não posso:
é a
vulgaridade que me envenena.
Empobreci
porque entender aflige,
empobreci
porque entender sufoca,
abençoada
seja a força da rocha!
Eu tenho o
coração como a espuma.
Mar, eu
sonhava ser como tu és,
além nas
tardes em que a minha vida
sob as horas
cálidas se abria…
Ah, eu
sonhava ser como tu és.
Olha para
mim, aqui, pequena, miserável,
com toda a
dor que me vence, com o sonho todos;
mar, dá-me,
dá-me o inefável empenho
de tornar-me
soberba, inacessível.
Dá-me o teu
sal, o teu iodo, a tua ferocidade,
Ar do mar!…
Oh, tempestade! Oh, enfado!
Pobre de
mim, sou um recife
E morro,
mar, sucumbo na minha pobreza.
E a minha
alma é como o mar, é isso,
ah, a cidade
apodrece-a e engana-a;
pequena vida
que dor provoca,
quem me dera
libertar-me do seu peso!
Que voe o
meu empenho, que voe a minha esperança…
A minha vida
deve ter sido horrível,
deve ter
sido uma artéria incontível
e é apenas
cicatriz que sempre dói.
(poetisa
argentina nascida faz hoje 120 anos)
(Tradução de José Agostinho Baptista)
segunda-feira, maio 28, 2012
Grito Negro
Eu sou
carvão!
E tu
arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me
tua mina, patrão.
Eu sou
carvão!
E tu
acendes-me, patrão,
para te
servir eternamente como força motriz
mas
eternamente não, patrão.
Eu sou
carvão
e tenho que
arder sim;
queimar tudo
com a força da minha combustão.
Eu sou
carvão;
tenho que
arder na exploração
arder até às
cinzas da maldição
arder vivo
como alcatrão, meu irmão,
até não ser
mais a tua mina, patrão.
Eu sou
carvão.
Tenho que
arder
Queimar tudo
com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu
carvão, patrão.
(José
Craveirinha nasceu faz hoje 90 anos)
domingo, maio 27, 2012
Resistência
Não. Digo à
explosão de ameaça
e à rapada
paisagem do desterro.
E não. Digo
à minha carcaça
encalhada em
bancos de ferro
e ao cordame
dos nervos, fustigado,
a ranger no
silêncio a sós:
Por cada
nervo quebrado
que se
inventem mais nós.
(Luís Maria
Leitão nasceu em Moimenta da Beira faz hoje 100 anos)
sábado, maio 26, 2012
Nós Duas
Parecemo-nos
muito; assim dizem - e eu o creio.
Além do
mesmo sangue, almas iguais nós temos;
pois, pelo
mesmo ideal e com o mesmo anseio,
dentro da
vida, nós lutamos e sofremos.
Vemos na
arte um refúgio, um oásis, um esteio
para a nossa
inquietude, e num barco sem remos
vagamos à
mercê do próprio devaneio,
sabendo que
jamais à enseada chegaremos...
E, apesar de
ela ter todo um sol na cabeça
e o nevoeiro
do inverno a minha já embranqueça,
da angústia
de minha alma a sua compartilha.
Ela pensa,
eu medito... Ela sonha, eu me lembro...
Nossa
pobreza é igual de Dezembro a Novembro.
Quem somos,
afinal? Apenas, mãe e filha.
(poetisa
brasileira nascida faz hoje 130 anos)
sexta-feira, maio 25, 2012
quinta-feira, maio 24, 2012
Tempo
no início
era o começo.
o depois
veio vindo devagar.
o antes veio
depois do depois.
só quando
esse se estabeleceu.
no princípio
era o agora.
isso demorou
até que
tudo virou
antes e depois.
então uma
revolução peluda
o agora
voltou ao trono.
antes e
depois viraram
falta do que
fazer.
e tanto
fizeram
que o agora
virou tudo
e o tudo,
nada.
de volta ao
princípio
o agora
congelou.
o antes fica
pra depois.
(poeta
carioca que hoje faz 61 anos)
quarta-feira, maio 23, 2012
Vida
Já perdoei
erros quase imperdoáveis,
tentei
substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer
pessoas inesquecíveis.
Já fiz
coisas por impulso,
já me
decepcionei com pessoas
que eu nunca
pensei que iriam me decepcionar,
mas também
já decepcionei alguém.
Já abracei
pra proteger,
já dei
risada quando não podia,
fiz amigos
eternos,
e amigos que
eu nunca mais vi.
Amei e fui
amado,
mas também
já fui rejeitado,
fui amado e
não amei.
Já gritei e
pulei de tanta felicidade,
já vivi de
amor e fiz juras eternas,
e quebrei a
cara muitas vezes!
Já chorei
ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só
para escutar uma voz,
me apaixonei
por um sorriso,
já pensei
que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo
de perder alguém especial
(e acabei
perdendo).
Mas vivi!
E ainda
vivo!
Não passo
pela vida.
E você
também não deveria passar!
Viva!!
Bom mesmo é
ir à luta com determinação,
abraçar a
vida com paixão,
perder com
classe
e vencer com
ousadia,
porque o
mundo pertence a quem se atreve
e a vida é
MUITO para ser insignificante.
(poeta rondoniano
que hoje faz 32 anos)
terça-feira, maio 22, 2012
Os Cantos do
Crepúsculo
Desde que eu
meu lábio levei ao copo plenamente cheio,
Desde que eu
minhas mãos coloquei em minha fronte pálida,
Desde que eu
respirei às vezes o sopro suave
De tua alma
, perfume de tua sombra enterrada,
Desde que me
era dado ouvir um ao outro me chamar
As palavras
que se derramam no coração misterioso,
Desde que eu
vi chorar , desde que eu vi sorrir
Sua boca em
minha boca e seus olhos em meus olhos;
Desde que eu
vi brilhar em minha cabeça encantada
Um raio de
tua estrela, ai! sempre escondida,
Desde que eu
vi desabar nas ondas de minha vida
Uma folha de
rosa arrancou os teus dias,
Eu me coloco
agora a contar os rápidos anos:
- Passam!
Passam sempre! Eu não tenho mais a idade!
Vou partir
para que tuas flores desbotem todas;
Eu tenho na
alma uma flor que ninguém pode colher!
Suas asas
batendo não farão que nada se derrame
Do vaso
d’água que bebo e que eu bem enchi
Minha alma
não tem mais fogo do que vós possuís em cinzas!
Meu coração
não tem mais amor do que vós possuis esquecimento!
(Victor Hugo
faleceu faz hoje 126 anos)
segunda-feira, maio 21, 2012
domingo, maio 20, 2012
A Vagina
É cálida
flor
E trópica
mansamente
De leite
entreaberta às tuas
Mãos
Feltro das
pétalas que por dentro
Tem o felpo
das pálpebras
Da língua a
lentidão
Guelra do
corpo
Pulmão que
não respira
Dobada em
muco
Tecida em
água
Flor
carnívora voraz do próprio
suco
No ventre
entorpecida
Nas pernas
sequestrada.
(Maria
Teresa Horta faz hoje 75 anos)
sábado, maio 19, 2012
Ápice
O raio do
sol da tarde
Que uma
janela perdida
Refletiu
Num instante
indiferente -
Arde,
Numa
lembrança esvaída,
À minha
memória de hoje
Subitamente…
Seu efémero
arrepio
Ziguezagueia,
ondula, foge,
Pela minha
retentiva…
- E não
poder adivinhar
Porque
mistério se me evoca
Esta ideia
fugitiva,
Tão débil
que mal me toca!…
- Ah, não
sei porquê, mas certamente
Aquele raio
cadente
Alguma coisa
foi na minha sorte
Que a sua
projeção atravessou…
Tanto
segredo no destino de uma vida…
É como a ideia
de Norte,
Preconcebida,
Que sempre
me acompanhou…
(Mário de
Sá-Carneiro nasceu faz hoje 122 anos)
sexta-feira, maio 18, 2012
Punhal da
aurora
Ainda escuto
a fala do meu pai,
iluminando o
silêncio de tapeçaria
da nossa
casa de telhado verde.
O rio que
lavava a ruazinha estreita
não vegetava
mágoas.
Ainda escuto
a canção da aurora
que tocava o
homem do realejo
com seus
olhares retos
e o sorriso
de orvalho.
Saudade de
Maria
com seu
olhar umedecido de alvorada.
Muitas
vezes, muitas, percorri a rua
carregando
sonhos nas mãos inocentes,
brincando
com meus irmãos que nesse tempo
eram apenas
anjos de porcelana,
num país sem
memória.
Hoje que
Rominha tem outro nome
e outras as
crianças que ali residem,
a perspectiva
das casas tornou-se paralela.
Deuses
tiranos caminham sobre a lama viva
e os jardins
que sorriam,
como as
janelas, agora são de nuvens.
Como a
infância corre depressa
na terra
grávida do tempo.
Os meus
castelos,
já não são
fantasiados de papoulas,
mas castelos
de vento.
Os meus
sonhos agora já não têm a cor do gerânio
e o sol que
havia no meu olhar
tornou-se
uma saudade ancestral.
Carlos Cunha
(poeta
maranhense nascido faz hoje 79 anos)
quinta-feira, maio 17, 2012
AUTOBIOGRAFIA
Algumas
poucas tabernas, velho armário,
cão de
folhas,
árvores do
escuro ladram,
eu corro
pelas páginas no focinho do cão.
A garrafa. O
gin gira
e fere-me
lábios e aviva o vinho velho.
Velho vidro.
Espalha o espelho (as palavras
no charco do
álcool).
Nunca o
coração bebe,
a árvore
ondulante bebe,
o coração
obscuro vive a violência
do meu ponto
de vista,
mas
habita-me
na confissão
se os cães
da retórica velhos
correm
contra a pele,
quando as
lágrimas os soltam
e as páginas
inesperadamente se derramam.
E o meu
armário fala, fantasma arborescente.
Em vez de um
lírio, as minhas fezes na boca,
a espuma da
copa. Álcool.
É o mar.
Choro
assombrado.
(poeta
espinhense que hoje faz 64 anos)
quarta-feira, maio 16, 2012
Épura
Geometrias,
imaginações destes caminhos
da minha
terra!
Curvas de
trilhas,
triângulos
de asas,
bolas de
cor...
Círculos de
sombras agachadas entre as árvores,
cilindros de
troncos embebidos na luz.
Geometrias,
imaginações destes caminhos
da minha
terra!
Melancolicamente,
nesta alegria geométrica,
pingando
bilhas polidas,
o leque das
bananeiras abana o ar da manhã...
(poeta
carioca nascido faz hoje 119 anos)
terça-feira, maio 15, 2012
segunda-feira, maio 14, 2012
Léguas-quilo
Quantas léguas-quilo
De jornais devoro
Para emitir duas páginas
De um juízo correto?
Quantos meses meço silêncios
Até que ouvidos captem
A melodia ignota
Original
Inédita
De meu eco?
Quantos países perco
Nestes pavimentos
Que me cercam
E encerram?
De quanta criança me privo
Por seus amanhãs mais justos
Menos incertos?
Quanto chumbo de solidão carrego
Solidão que não peço?
Em que conclaves
Não me arrisco
Pensando haver caminhos
Mais retos?
A quanto exílio me vetam
Crendo-se o tirocínio certo?
Como montar meu filme de vida
Sem reprises de minha imaginação
Tridimensional espacial
Hodierna e pregressa?
Juju Campbell Penna
(poeta carioca)
domingo, maio 13, 2012
As
lavadeiras
As
lavadeiras no tanque noturno
Não
responderam ao canto da sibila.
“Lavamos os
mortos,
Lavamos o
tabuleiro das idéias antigas
E os
balaústres para repouso do mar...
Nele
encontramos restos de galeras,
Quem nos
desviará do nosso canto obscuro?
Nele
descobrimos o augusto pudor do vento,
O balanço do
corpo do pirata com argolas,
Nele
promovemos a sede do povo
E excitamos
a nossa própria sede...”
As
lavadeiras no tanque branco
Lavam o
espectro da guerra.
Os braços
das lavadeiras
No abismo
noturno
Vão e vêm.
(poeta
mineiro nascido faz hoje 111 anos)
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