domingo, fevereiro 05, 2012

Os fantasmas da memória

Os troncos cortados no chão do bosque
São como os homens degolados nas esquinas da cidade.

Não sangram mais, secam, apodrecem.
A terra negra de carvão, as cinzas ao vento.

Uma árvore em forma de cruz abre os braços
E resiste: queima ainda, se consumindo em solidão.

Um pássaro morto num galho caído,
O canto parado no ar, como se ainda cantasse.

Um ou outro tição brilha indeciso
Numa poça d’água, ao desamparo.

Uma estrela se espelha nessa poça
E agoniza, com a dor multiplicada.

Uma flor cresce na fuligem das ruínas
Com o medo cinza corroendo as pétalas diáfanas.

José Carlos Brandão

(poeta paulista)

2 comentários:

jrd disse...

Despojos...

cafc disse...

Meu caro lino
Terrivelmente belo...
Um grande abraço.
Carlos