quinta-feira, março 10, 2011


Roça

A noite sangra
no mato,
ferida por uma aguda lança
de cólera.
A madrugada sangra
de outro modo:
é o sino da alvorada
que desperta o terreiro.
É o feito que começa
a destinar as tarefas
para mais um dia de trabalho.

A manhã sangra ainda:
salsas a bananeira
com um machim de prata;

capinas o mato
com um machim de raiva;
abres o coco
com um machim de esperança;
cortas o cacho de andim
com um machim de certeza.

E à tarde regressas
à senzala;
a noite esculpe
os seus lábios frios
na tua pele
E sonhas na distância
uma vida mais livre,
que o teu gesto
há-de realizar.


(poetisa são-tomense falecida a 10 de Março de 2007)

3 comentários:

jrd disse...

Belíssimo poema. De raça!!

Sensualidades disse...

maravilhoso

Bjinhos
Paula

Jorge Sader Filho disse...

Expressiva poesia de Manuela Margarido.
Quanto a literatura de João Ubaldo, amigo Lino, é valiosa, sem a menor dúvida, mas ler Eça de Queiroz é muito mais agradável.
Ubaldo ganhou um prêmio Camões, o maior de lingua portuguesa.
Abraço