segunda-feira, fevereiro 28, 2011


Poente

As minhas sensações - barcos sem velas -
Erram de mim. Ocaso roxo. Cismo.
Meus olhos de Não-ver-me são janelas
         Dando sobre o abismo.

Abismo d'Outro Ser. E a Hora chora
Nostálgica de Si, mas eu de vê-las
Erro de Ser-me, e a noite sem estrelas
         Apavora.

Delírio roxo d'agonia. Prece.
Poente feito noite. Escuridão.
Perturbo-me de mim em sensação
      E dentro em mim desfalece
         E anoitece
A sombra do meu Ser na solidão
         Do dia que morreu
         E se perdeu
      E jamais amanhece.


(Armando César Côrtes-Rodrigues nasceu a 28 de Fevereiro de 1891)

(poema publicado no primeiro número da Revista Orpheu, de Janeiro/Fevereiro/Março de 1915)

6 comentários:

jrd disse...

Da sombra...

Manuel Veiga disse...

"acaso roxo"! excelente exemplo da Poesia do Orfeu...

(tens razão quanto ao "rio". acho que estou a abusar. ainca acabo por meter água ... lol)

abraços

Barbara disse...

Da sombra?
Só há sombra onde há muita luz.

Carla Diacov disse...

abismo de ouro!
serra pelada!


lindo demais!




bejo!

Mar Arável disse...

Boa memória

Sofá Amarelo disse...

Podia ter sido escrito no séc. XXI!