quarta-feira, março 28, 2007

Emoção e decisão moral


Já se sabia que o lobo frontal do cérebro, que inclui o córtex motor e pré-motor e o córtex pré-frontal, está envolvido no planeamento de acções e movimentos, assim como no pensamento abstracto. A actividade no lobo frontal aumenta nas pessoas normais somente quando temos de executar uma tarefa difícil em que temos de descobrir uma sequência de acções que minimize o número de manipulações necessárias.

A parte da frente do lobo frontal, o córtex pré-frontal, está relacionada com a estratégia: decidir que sequências de movimento activar e em que ordem e avaliar o seu resultado. As suas funções parecem incluir o pensamento abstracto e criativo, a fluência do pensamento e da linguagem, respostas afectivas e capacidade para ligações emocionais, julgamento social, vontade e determinação para a acção e atenção selectiva. Traumas no córtex pré-frontal fazem com que uma pessoa fique presa obstinadamente a estratégias que não funcionam ou que não consiga desenvolver uma sequência de acções correcta.

Agora, um grupo de cientistas, nos quais se inclui António Damásio (O Erro de Descartes, O Sentimento de Si e à Procura de Espinoza), num estudo publicado no dia 21 de Março na revista Nature (artigo completo reservado a subscritores ou passível de compra avulso), concluiu que as emoções desempenham, efectivamente, um papel crucial nas nossas opções morais. Sem elas, o nosso juízo moral não funciona ou funciona com menor acuidade. “O nosso trabalho fornece a primeira demonstração causal do papel da emoções nos juízos morais”, declarou Marc Hauser, especialista em comportamento animal da Universidade de Harvard e um dos membros da equipa.

Os cientistas apresentaram um conjunto de dilemas morais (alguns deles arrepiantes), a um grupo de 30 voluntários, dos quais 6 tinham lesões do córtex pré-frontal ventromedial (VMPC), 12 tinham outras lesões cerebrais e 12 não tinham lesões. O córtex pré-frontal ventrometrial integra os circuitos “emocionais” do cérebro e as pessoas que o têm afectado podem ser lúcidas, despreocupadas , inteligentes e faladoras, mas socialmente desastradas, aparentemente insensíveis aos fluxos e refluxos dos estados de espírito e das emoções sociais subtis.

Uma dos dilemas foi o seguinte: “Fazes parte de um grupo, que incluiu 8 crianças, feito refém por terroristas, na selva. O líder dos terroristas garante a tua liberdade e a das crianças se matares um refém a quem tomou de ponta. Caso contrário, afirma que matará todos os reféns na manhã seguinte. Matarias o teu amigo refém para escapar aos terroristas e salvar as vidas das 8 crianças?”.

Os 6 elementos do grupo com lesões do VMPC demonstraram muito maior facilidade em tomar decisões desprovidas de emoções do que os restantes voluntários, sendo mais inclinados a sacrificar um indivíduo em benefício de um conjunto mais alargado.

O grupo de cientistas concluiu que “esta descoberta indica que, para um conjunto selectivo de dilemas morais, o VMPC é fundamental para um normal julgamento do que é certo ou errado. Os resultados apoiam o papel fundamental das emoções na formação dos juízos morais”.

Embora sejam necessários mais testes, a descoberta pode ter importantes consequências ao nível judicial.

Mais informação aqui, e aqui.

4 comentários:

Anónimo disse...

Muitissimo interessante!
Abraço

Anónimo disse...

Muito interssante na minha opinião.
Fiquei foi a questionar-me sobre que decisões tomaria...

GMaciel disse...

É fascinante, este tema. Iniciei-me nele com o livro de Daniel Goleman, "Inteligência Emocional" - onde ele fala nas investigações do António Damásio - e tenho aprendido imenso sobre as competências sociais, quer de quem observo ao meu redor, quer a meu respeito.
O que nos leva a tomar certo tipo de decisões, ou a reagir de determinada forma, baseiam-se em conceitos que nos escapam se não os aprofundarmos. Aconselho a leitura do livro que menciono, pois é uma aprendizagem interessante e, creio, importante.
jocas grandes

lino disse...

O autor tem mais três, dois traduzidos em português e um em brasilês.