quinta-feira, dezembro 28, 2006

Para que não a memória não se apague Mais um ano está a terminar. Mais um ditador morreu sem ter sido responsabilizado pelos milhares de mortos e desaparecidos que deviam pesar-lhe na consciência. Se é que a tinha. Atraiçoou e matou quem nele confiara. Fez tábua rasa da Constituição do país que o viu nascer. Torturou e matou milhares e milhares de concidadãos seus. Fez-se nomear senador vitalício para escapar às sanções. Beneficiou da cumplicidade de muitas das ditas democracias ocidentais. Espoliou o seu país de milhões de dólares para seu próprio proveito. Encenou uma macabra dança de demência senil para não se submeter aos tribunais. E até simulou um pretenso arrependimento na hora da morte. Mas o povo do Chile não esquecerá o carrasco que foi Augusto Pinochet. Do grande poeta José Carlos Ary dos Santos, aqui fica uma singela homenagem aos que pereceram vítimas da sua sanha sanguinária. Homenagem ao povo do Chile Foram não sei quantos mil operários trabalhadores mulheres ardinas pedreiros jovens poetas cantores camponeses e mineiros foram não sei quantos mil que tombaram pelo Chile morrendo de corpo inteiro Nas suas almas abertas traziam o sol da esperança e nas duas mãos desertas uma pátria ainda criança Gritavam Neruda Allende davam vivas ao Partido que é a chama que se acende no Povo jamais vencido – o Povo nunca se rende mesmo quando morre unido Foram não sei quantos mil operários trabalhadores mulheres ardinas pedreiros jovens poetas cantores camponeses e mineiros foram não sei quantos mil que tombaram pelo Chile morrendo de corpo inteiro. Alguns traziam no rosto um ricto de fogo e dor fogo vivo fogo posto pelas mãos do opressor. Outros traziam os olhos rasos de silêncio e água maré-viva de quem passa Uma vida à beira-mágoa. Foram não sei quantos mil operários trabalhadores mulheres ardinas pedreiros jovens poetas cantores camponeses e mineiros foram não sei quantos mil que tombaram pelo Chile morrendo de corpo inteiro. Mas não termina em si próprio quem morre de pé. Vencido é aquele que tentar separar o povo unido. Por isso os que ontem caíram levantam de novo a voz. Mortos são os que traíram e vivos ficamos nós. Foram não sei quantos mil operários trabalhadores mulheres ardinas pedreiros jovens poetas cantores camponeses e mineiros foram não sei quantos mil que nasceram para o Chile morrendo de corpo inteiro. José Carlos Ary dos Santos

1 comentário:

Eurydice disse...

Bonita escolha! Gostei! :)