O Poema
Um poema
cresce
inseguramente
na confusão
da carne.
Sobe ainda
sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como
sangue
ou sombra de
sangue pelos canais do ser.
Fora existe
o mundo. Fora, a esplendida violência
ou os bagos
de uva de onde nascem
as raízes
minúsculas do sol.
Fora, os
corpos genuínos e inalteráveis
do nosso
amor,
rios, a
grande paz exterior das coisas,
folhas
dormindo o silencio
a hora
teatral da posse.
E o poema
cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum
poder destrói o poema.
insustentável,
único,
invade as
casas deitadas nas noites
e as luzes e
as trevas em volta da mesa
e a força
sustida das cisas
e a redonda
e livre harmonia do mundo.
Em baixo o
instrumento perplexo ignora
a espinha do
mistério
- E o poema
faz-se contra a carne e o tempo.
(Herberto
Hélder faria hoje 86 anos)
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