Como
Queiras, Amor...
Como
queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a
ti, a tudo me abandono,
seguro e
certo, num terror tranquilo.
A tudo
quanto espero e quanto temo,
entregue a
ti, Amor, eu me dedico.
Nada há que
eu não conheça, que eu não saiba,
e nada, não,
ainda há por que eu não espere
como de quem
ser vida é ter destino.
As
pequeninas coisas da maldade, a fria
tão
tenebrosa divisão do medo
em que os
homens se mordem com rosnidos
de
malcontente crueldade imunda,
eu sei
quanto me aguarda, me deseja,
e sei até
quanto ela a mim me atrai.
Como
queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil
que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza,
essa ternura tépida
quais olhos
marejados, carne entreaberta,
será só
escárneo, ou, pior, um vão sorriso
em lábios
que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás
salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como
queiras ficaremos vivos.
Será mais
duro que morrer, talvez.
Entregue a
ti, porém, eu me dedico
àquele amor
por qual fui homem, posse
e uma tão
extrema sujeição de tudo.
Como tu
queiras, meu Amor, como tu queiras.
(Jorge de
Sena nasceu em 2 de Novembro de 1919
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