Fui Pedir um
Sonho ao Jardim dos Mortos
Fui pedir um
sonho ao jardim dos mortos.
Quis
pedi-lo, aos vivos. Disseram-me que não.
Os mortos
não sabem, lá onde é que estão,
Que neles se
enfeitam os meus braços tortos.
Os mortos
dormiam... Passei-lhes ao lado.
Arranquei-lhes
tudo, tudo quanto pude;
Páginas
intactas - um livro fechado
Em cada
ataúde.
Ai as pedras
raras! As pedras preciosas!
Relâmpagos
verdes por baixo do mar!
A sombra, o
perfume dos cravos, das rosas
Que os
dedos, já hirtos, teimavam guardar!
Minha alma é
um cadáver pálido, desfeito.
As suas
ossadas
Quem sabe
onde estão?
Trago as
mãos cruzadas,
Pesam-me no
peito.
Quem sabe se
a lama onde hoje me deito
Dará flor
aos vivos que dizem que não?
(poeta
portuense nascido faz hoje 112 anos)
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