Última
Vontade
Enterrem meu
corpo em qualquer lugar.
Que não
seja, porém, um cemitério.
De
preferência, mata;
Na Gávea, na
Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em
letras fundas,
Que o tempo
não destrua,
Meu nome
gravado claramente.
De modo que,
um dia,
Um casal
desgarrado
Em busca de
sossego
Ou de
saciedade solitária,
Me descubra
entre folhas,
Detritos
vegetais,
Cheiros de
bichos mortos
(Como eu).
E, como uma
longa árvore desgalhada
Levantou um
pouco a laje do meu túmulo
Com a raiz
poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não
estou na morada.
Não sairei,
prometo.
Estarei
fenecendo normalmente
Em meu
canteiro final.
E o casal
repetirá meu nome,
Sem saber
quem eu fui,
E se irá
embora,
Preso à
angústia infinita
Do ser e do
não ser.
Sol e chuva
ocasionais,
Estes sim,
imortais.
Até que um
dia, de mim caia a semente
De onde há
de brotar a flor
Que eu peço
que se chame
Papáverum
Millôr
(Millôr
Fernandes nasceu faz hoje 93 anos)
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