O Sono das Águas
Há uma hora
certa,
no meio da
noite, uma hora morta,
em que a água
dorme.
Todas as águas
dormem:
no rio, na
lagoa,
no açude, no
brejão, nos olhos d’água,
nos grotões
fundos
E quem ficar
acordado,
na barranca, a
noite inteira,
há de ouvir a
cachoeira
parar a queda e
o choro,
que a água foi
dormir…
Águas claras,
barrentas, sonolentas,
todas vão
cochilar.
Dormem gotas,
caudais, seivas das plantas,
fios brancos,
torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da
folhagem
e adormece.
Até a água
fervida,
nos copos de
cabeceira dos agonizantes…
Mas nem todas
dormem, nessa hora
de torpor
líquido e inocente.
Muitos hão de
estar vigiando,
e chorando, a
noite toda,
porque a água
dos olhos
nunca tem sono…
(escritor
brasileiro nascido faz hoje 108 anos)
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