Desde a
aurora
Como um sol
de polpa escura
para levar à
boca,
eis as mãos:
procuram-te
desde o chão,
entre os
veios do sono
e da memória
procuram-te:
à vertigem
do ar
abrem as
portas:
vai entrar o
vento ou o violento
aroma de uma
candeia,
e
subitamente a ferida
recomeça a
sangrar:
é tempo de
colher: a noite
iluminou-se
bago a bago: vais surgir
para beber
de um trago
como um
grito contra o muro.
Sou eu,
desde a aurora,
eu - a terra
- que te procuro.
(Eugénio de
Andrade nasceu faz hoje 93 anos)
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