Poema da
malta das naus
Lancei ao
mar um madeiro,
espetei-lhe
um pau e um lençol.
Com palpite
marinheiro
medi a
altura do sol.
Deu-me o
vento de feição,
levou-me ao
cabo do mundo.
Pelote de
vagabundo,
rebotalho de
gibão.
Dormi no
dorso das vagas,
pasmei na
orla das praias,
arreneguei,
roguei pragas,
mordi
peloiros e zagaias.
Chamusquei o
pêlo hirsuto,
tive o corpo
em chagas vivas,
estalaram-me
as gengivas,
apodreci de
escorbuto.
Com a mão
direita benzi-me,
com a
direita esganei.
Mil vezes no
chão, bati-me,
outras mil
me levantei.
Meu riso de
dentes podres
ecoou nas
sete partidas.
Fundei
cidades e vidas,
rompi as
arcas e os odres.
Tremi no
escuro da selva,
alambique de
suores.
Estendi na
areia e na relva
mulheres de
todas as cores.
Moldei as
chaves do mundo
a que outros
chamaram seu,
mas quem
mergulhou no fundo
Do sonho,
esse, fui eu.
O meu sabor
é diferente.
Provo-me e
saibo-me a sal.
Não se nasce
impunemente
nas praias
de Portugal.
(Rómulo
Vasco da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906)
Sem comentários:
Enviar um comentário