Explicação
do fato
Impossível
envergonhar-me de ser homem.
Tenho rins e
eles me dizem que estou vivo.
Obedeço a
meus pés
e a ordem é
seguir e não olhar à frente.
Minúsculo
vivente entre rinocerontes
me reconheço
e falho
e insisto.
E insisto
porque insistir é minha insígnia.
O meu brasão
mostra dois pés escalavrados
e sobram-me
algumas forças: sei-me fraco
e choro.
E choro e
nem assim me excedo na postura humana:
sofro o
corpo inteiro, pendo e não procuro
a arma em
minhas mãos.
Sei que
caminho. É só.
Joelhos
curvam-se, amasiam ao chão que queima
e me penetra
e eu decido que não posso
envergonhar-me
de ser homem.
A criança
antiga é dique barrando o meu escôo
e diz que
não, não me envergonhe.
Não me
envergonho.
Tenho rins mãos
boca órgão genital e
glândulas de
secreção interna:
impossível.
No entanto
sinto medo
e este é o
meu pavor.
Por isso a
minha vida, como o meu poema,
não é canto,
é pranto
e sobre ela
me debruço
observando a
corcunda precoce
e os olhos
banzos.
(poeta
piauiense nascido faz hoje 71 anos)
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