Névoa
A Albano Nogueira
Abraçada à
noite,
a névoa
desce sobre a terra.
Imprecisamente,
como se a
névoa fosse dos meus olhos,
vejo o
casario e as luzes da outra margem do rio.
Mais à
direita, ao longe,
são já da
névoa a praia, o mar.
Ouve-se
apenas o ronco do farol
- um som
molhado.
Para o lado
dos pinhais,
anda a bruma
a fazer medo
e a pôr mais
pressa nos passos de quem foge.
Não há luar,
não há estrelas.
De novo,
olho para o rio.
Não sei se o
vejo:
anda a
névoa, já, com ele,
e os meus
olhos não dizem o que é bruma, o que é rio.
E ela não
pára,
avança ao
meu encontro.
Cerca-me.
E eu tenho,
só,
orvalho nas
árvores do jardim,
gotas de
água que se partem na alameda,
o ar húmido
que me trespassa,
o molhado
ronco do farol,
os cabelos
encharcados
e
pensamentos de névoa...
(poeta
portuense falecido faz hoje 23 anos)
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