Cor
É preciso
soltar o ritmo que me prende.
Esta amarra
de ferro à palavra e ao som.
Emudecer, no
espaço, o arco e a corrente
E ser nesta
varanda um pouco só de cor.
Não saber se
uma flor é mesmo uma criança.
Se um muro
de jardim é proa de navio.
Se o
monumento fala, se o monumento dança.
Se esta
menina cega é uma estátua de frio.
Um pássaro
que voa pode ser um perfume.
Uma vela no
rio, um lenço no meu rosto.
Na tarde de
Fevereiro estar um dia de Outubro.
Nos meus
olhos de morta uma noite de Agosto.
É preciso
soltar o ritmo das marés,
Das
estações, do Amor, dos signos e das águas,
Os duendes
das plantas, os génios dos rochedos
Nos cabelos
do Vento, as tranças de arvoredos.
Desordenai-me,
luz! Que nada mais dependa
Das águas,
das marés, dos signos e do Amor.
É preciso
calar o arco e a corrente
E ser nesta
varanda um pouco só de cor
(poetisa
benaventense nascida a 28 de Outubro de 1920)
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