fingir que
está tudo bem
fingir que
está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa
passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo,
gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está
tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos
olhares se encontram é noite: as pessoas
não
imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis:
as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos:
fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele
igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos
lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de
mim: será que vou morrer? olhas-me e só tu sabes:
ferros em
brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e
morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que
nos queima, um incêndio que nos afoga.
(José Luís
Peixoto faz hoje 41 anos)
Fingir que tudo está bem, mas o poema não finge.
ResponderEliminarUm abraço