A filha do
modesto funcionário público
dá um bruto
interesse à natureza-morta
da sala
pobre no subúrbio.
O vestido
amarelo de organdi
distribui
cheiros apetitosos de carne morena
saindo do
banho com sabonete barato.
O ambiente
parado esperava mesmo aquela vibração:
papel
ordinário representando florestas com tigres,
uma Ceia
onde os personagens não comem nada
a mesa com a
toalha furada
a folhinha
que a dona da casa segue o conselho
e o piano
que eles não têm sala de visitas.
A menina
olha longamente pro corpo dela
como se ele
hoje estivesse diferente,
depois
senta-se ao piano comprado a prestações
e o cachorro
malandro do vizinho
toma nota
dos sons com atenção.
(poeta
mineiro falecido faz hoje 40 anos)
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