Mãos dadas
Não serei o
poeta de um mundo caduco.
Também não
cantarei o mundo futuro.
Estou preso
à vida e olho meus companheiros.
Estão
taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles,
considero a enorme realidade.
O presente é
tão grande, não nos afastemos.
Não nos
afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o
cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os
suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não
distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei
para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a
minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida
presente.
(Carlos
Drummond de Andrade faleceu faz hoje 28 anos)
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