Génio do Mal
Gostavas de
tragar o universo inteiro,
Mulher
impura e cruel! Teu peito carniceiro,
Para se
exercitar no jogo singular,
Por dia um
coração precisa devorar.
Os teus
olhos, a arder, lembram as gambiarras
Das barracas
de feira, e prendem como garras;
Usam com
insolência os filtros infernais,
Levando a
perdição às almas dos mortais.
Ó monstro
surdo e cego, em maldades fecundo!
Engenho
salutar, que exaure o sangue do mundo
Tu não
sentes pudor? o pejo não te invade?
Nenhum
espelho há que te mostre a verdade?
A grandeza
do mal, com que tu folgas tanto.
Nunca,
jamais, te fez recuar com espanto
Quando a
Natura-mãe, com um fim ignorado,
- Ó mulher
infernal, rainha do Pecado!-
Vai recorrer
a ti para um génio formar?
Ó grandeza
de lama! ó ignomínia sem par.
(Charles
Baudelaire faleceu a 31 de Agosto de 1867)
Tradução de
Delfim Guimarães
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