Um novo
milagre é preciso
“A sua
cidade já não existe.” Sem rosas
nem quimeras
de marear
as rotas,
escuta-se serodiamente
apenas o
intrínseco alvoroço de vozes ausentes
de sílabas
híbridas,
um hálito
dos corpos ébrios de sede
e do olhar
enigmático de alguns ciganos
com a alma
suja de desperdícios
onde só as
altivas sobras de solidão mancham
a visão
retemperadora do astro-rei
queimando o
mondego
quando os
peixes se mutilam
desassossegando
as águas de guelras vermelhas
no regaço alquímico
de Isabel,
hoje o rio
secou o assombro
e a infinda
maresia da embarcação
dos
náufragos primordiais
“desapareceu.
Foi abandonada por toda a gente”,
mas no
centro da cidade
está oculto
um inexplicável oceano
para aqueles
que nunca o ousarem sulcar,
o sustento
da pedra onde se alimentam os corpos
dilacerou a
sua unidade de utopia
obstruindo o
percurso da boca às raízes
“e depois
veio a areia e engoliu-a”.
Um novo
milagre é preciso
e embeber a
inutilidade de um poema é preciso,
deveremos
ser bilíngues de rotas e casas
em uma única
cidade
pois é nela
que a nudez de quem fere e sangra
não
questiona o heróico murmúrio do estorvo do verbo.
(poeta
coimbrão que hoje faz 50 anos)
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