PERMANÊNCIA
Não peçam
aos poetas um caminho. O poeta
não sabe
nada de geografia celestial.
Anda aos
encontrões da realidade
sem acertar
o tempo com o espaço.
Os relógios
e as fronteiras não tem
tradução na
sua língua. Falta-lhe
o amor da
convenção em que nas outras
as palavras
fingem de certezas.
O poeta lê
apenas os sinais
da terra.
Seus passos cobrem
apenas
distâncias de amor e
de presença.
Sabe
apenas
inúteis palavras de consolo
e mágoa pelo
inútil. Conhece
apenas do
tempo o já perdido; do amor
a câmara
escura sem revelações; do espaço
o silêncio
de um vôo pairando
em toda a
parte.
Cego entre
as veredas obscuras é ninguém e nada sabe
- morto
redivivo.
Tudo é
simples para quem
adia sempre
o momento
de olhar de
frente a ameaça
de quanto
não tem resposta.
Tudo é nada
para quem
descreu de
si e do mundo
e de olhos
cegos vai dizendo:
Não há o que
não entendo.
(poeta
portuense nascido faz hoje 107 anos)
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