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quinta-feira, abril 23, 2015

Les Evenements

Havia o céu - eis tudo
(e um azul
incompatível
com a minha dignidade
de poeta
sufocado
pelos acontecimentos)

No teu seio, de pé, o Minotauro,
e a paz que me ofertavas - tão impura -
mergulhava no mundo das raízes.
Havia a catalogar os nomes,
(desde Adão ao último da Silva)
os dias,
(amontoados à sombra de uma solitária inquietude)
as raças,
(segundo as suas características mais pronunciadas:
o estúpido, o neutro, o bem-amado).
Havia a considerar o trágico e o grotesco
(as cartas,
os aniversários,
o velho álbum de fotografias
onde ao virar da página
perdia-se a fralda e a castidade)
os fantasmas,
(rigorosamente classificados segundo a ordem e a hierarquia)
as doenças,
(observadas pela maior ou menor frequência dos desesperos
ou diagnosticadas pela relativa fidelidade
ao último poema)

Depois o abandono,
completo,
absoluto,
(nem um sopro de fé para deter-me,
nem um lenho de cruz para deitar-me)


(poeta paraense falecido faz hoje 25 anos)

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