Construir
Construir
sobre a fachada do luar das nossas terras
Um mundo
novo onde o amor campeia, unindo os homens
de todas as
terras
Por sobre os
recalques, os ódios e as incompreensões,
as torturas
de todas as eras.
É um longo
caminho a percorrer no mundo dos homens.
É difícil
sim, percorrer este longo caminho
De longe de
toda a África martirizada.
Crucificada
todos os dias na alma dos seus filhos.
É difícil
sim, recordar o pai esbofeteado
pelo
despotismo dum tirano qualquer,
a irmã
violada pelo mais forte, os irmãos morrendo nas minas
Enquanto os
argentários amontoam o oiro.
É difícil
sim percorrer esse longo caminho
Contemplando
o cemitério dos mortos lançados ao mar
Na demência
dum louco do poder, caminhando impune
para a
frente, sem temer a justiça dos homens.
É difícil
sim, perdoar os carrascos
Esquecer as
terras donde nos escorraçaram
As galeras
transportando nossas avós para outros continentes
Lançando no
mar as cargas humanas
Se os navios
negreiros têm lastro em demasia, é difícil sim,
Esquecer
todos esses anos de torturas e inundar o mundo
De luz, de
paz e de amor, na hora fatal do ajuste de contas.
É difícil
sim, mas um erro não justifica outro erro igual.
Na
construção de um mundo novo à sombra das nossas
Terras
maravilhosas, juramos não sofrer uma afronta igual
Mas receber
conscientes o amor onde há fraternidade
Espalhando
assim o grito potente da nossa apregoada selvajaria
Mas essa
hora tarda e os gritos do deserto espreitam
Por sobre as
nossas cabeças encanecidas da longa espera
Mas os
nossos sonhos hão-de abrir clareiras nos eternos luares
Dos nossos
desertos assombrados.
(poetisa
são-tomense nascida faz hoje 89 anos)
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