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quarta-feira, março 18, 2015

Os indigentes também são gente

nessa folha onde escrevi a vida que já esqueci
limpo agora o rosto
quanto tempo passou já me não lembro
que o meu país é um país ao deus-dará
sobram-me dias inquietos
as calçadas não trazem passos de volta
nada me acode
que o meu país já não pertence aos seus herdeiros
vendido pelo preço duma esmola
que não me lembro de pedir
ando com os pés descalços sujos de lama e de pus
e o que escrevi nessa folha tem o preço
de tudo o que me roubaram
e te roubaram
e nos roubaram
e que aqueles que roubaram hão-de pagar
não lembro dias de festa
pouco me lembro de mim
mas do que me lembro sei
que está na hora de lhes apresentar a conta


(escritor estremocense que hoje faz 62 anos)

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