Os Ciclistas
Com um surdo
rumor de escavadora
ressoa no
subsolo a tua voz.
Muitos tapam
os ouvidos delicados.
Outros
escondem-se para a não ouvir.
E outros
estremecem de pavor.
Mas,
rápidos, os ciclistas pedalam
na bruma dos
subúrbios ao teu encontro.
Rosto baixo,
mãos no guiador, pés
bem firmes
nos pedais, geram
o movimento,
o ritmo alado
das máquinas
frágeis que cavalgam
ao
amanhecer. Perpassam como espectros
sob a bruma
e juntam-se, confluem,
avançam como
um rio poderoso
sobre a
cidade adormecida.
Os
ciclistas. Os que erguem os andaimes
E fazem
girar os fusos dos teares.
Os que movem
as gruas. Os que transportam
O dinamite
nas mãos calosas.
Os que não
sabem envelhecer de tédio
à mesa do
café nem vivem de mercadejar
preservativos,
palavras, casas pré-fabricadas.
Os que não
sonham morrer em glória
como jovens
deuses trespassados na batalha.
Os que não
hão-de apodrecer, como muitos de nós,
roídos de
lepra e desespero.
Esses
merecem bem a tua voz, Orfeu.
(Papiniano Carlos
faleceu faz hoje 2 anos)
O poeta que escreveu um dos mais belos poemas sobre Catarina Eufémia.
ResponderEliminarUm abraço