Havia
Séculos
Havia
séculos
e eram
florestas sobre florestas escritas.
O canto
cantava: era o incêndio do vento
folheando a
memória da terra
essa maranha de raízes aéreas que nasciam
enterrando
mais fundo
as árvores anteriores;
essa teia nocturna de troncos e lianas, de
ramos e folhas,
nervuras que
os versos enervam irrespiráveis;
esse mapa em relevo lavrado pela paciência
da luz
que
atrasando-se recorta
estas estranhas esculturas do tempo:
os poemas
selvagens
o máximo excesso
de uma rosa aquática e frágil
sempre a
nascer desfiladeiros
e falésias,
fendas, quebradas, ravinas
vulcões que
deflagram em écrans sucessivos
Havia
séculos
e o cinema
dos astros
acendia
ampolas e bagas, campânulas, cápsulas, lâmpadas;
punha em
música a infinita noite dos versos que longamente
escutam
aqueles que
muito antes ou muito depois vieram ou virão
até estes
anfiteatros que os desertos invadem.
Havia
séculos
e /
atravessando as ruínas dessa terra quente, as páginas
de água
dessa rosa alucinada / havia esse:
o comum de
nós que dos seus se dividindo, verso
a verso,
procura ainda alguém. E assim
era de novo
o início.
A grande
migração das imagens - havia séculos -
desde há
muito começara, desde sempre, já.
E sem cessar
migrávamos nós, inquietos e perdidos
sem paz e
sem lei, sem amos nem destino.
(poeta
eborense que hoje faz 69 anos)
Os dfesertos invadem tanta coisa, desgraçadamente...
ResponderEliminarOtis Reding , boa escola.
Saudações.