No País dos
Sacanas
Que adianta
dizer-se que é um país de sacanas?
Todos o são,
mesmo os melhores, às suas horas,
e todos
estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo
melhor do que uma sacanice
para poder
funcionar fraternalmente
a humidade
de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além
das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto
se dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que
é de heróis e santos o país,
a ver se se
convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se
toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e
sacaneados é que foram disso?
Não, o
melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro
que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no
país dos sacanas, ninguém pode entender
que a
nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a
bondade, etc., etc., sejam
outra coisa
que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto
que os mais não são capazes de atingir.
No país dos
sacanas, ser sacana e meio?
Não, que
toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se
então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não
ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi
no teatro, e o gajo morreu na mesma.
(Jorge de
Sena nasceu faz hoje 95 anos)
O retrato perfeito dos sacanas e do seu país.
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