A Criança
que fui chora na estrada
A Criança
que fui chora na estrada,
Deixei-a ali
quando vim ser quem sou;
Mas hoje,
vendo que o que sou é nada,
Quero ir
buscar quem fui onde ficou.
Ah, como
hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem
a regressão errada.
Já não sei
de onde vim nem onde estou.
De o não
saber, minha alma está parada.
Se ao menos
atingir neste lugar
Um alto
monte, de onde possa enfim
O que
esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência,
ao menos, saberei de mim,
E ao ver-me
tal qual fui ao longe, achar
Em mim um
pouco de quando era assim.
(Fernando
Pessoa faleceu faz hoje 79 anos)
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